O uso da tecnologia blockchain no setor automobilístico

Autor explica o que já foi implantado e possíveis aplicações futuras
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Foto: Shutterstock

A tecnologia blockchain, como sabemos, é versátil e vai muito além das criptomoedas. A mineração de Bitcoin, os NFTs e as finanças descentralizadas (DeFi) são os assuntos favoritos do público atualmente, mas diversos setores industriais e de produção de bens de consumo já vêm adaptando a tecnologia às suas necessidades. Um deles é o setor automobilístico.

As fabricantes de automóveis têm, historicamente, uma posição de protagonismo no quesito investimento e inovação tecnológica, e com as blockchains não está sendo diferente. Empresas como Ford, BMW e gestoras de tráfego estão cientes do potencial da tecnologia e já começaram a implementá-la. A seguir, veremos que tipo de blockchain é utilizado e de que forma são empregadas.

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O uso de blockchains públicas vs. privadas 

As grandes fabricantes de veículos encontraram nas blockchains privadas uma solução mais adequada para diversas de suas questões industriais e administrativas.

As blockchains privadas são mais interessantes, nesse caso, por requererem autenticação para que um usuário faça log-in como um nó do sistema. O número de nós é menor, o que em tese diminui a confiabilidade, transparência e resiliência contra corrupção, mas em troca ela demanda menor poder de processamento e energia e aumenta a velocidade operacional e a privacidade.

Essas blockchains não expõem os bancos de dados comerciais de forma pública e transparente numa rede mundial, mantendo um alto nível de controle interno e prevenindo a ocorrência de golpes e ataques de hackers.

Formas de aplicação

As formas de aplicação da tecnologia blockchain para o setor automobilístico vão desde elementos comuns à indústria, como a gestão de cadeias de suprimentos, até pontos mais específicos.

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Gestão de cadeias de suprimentos

Existem dois grandes problemas nesse setor, que afligem as indústrias que operam em larga escala: a demora e a complexidade no rastreamento de produtos e a corrupção dos registros de dados. As blockchains podem ser úteis com essas duas questões. 

No caso da corrupção, é comum que empresas estejam suscetíveis a fraudes nos registros da cadeia de suprimentos. As formas mais comuns são a manipulação dos dados de origem dos materiais e produtos, das informações de quantidade e pagamentos e a adição de artigos falsificados.

As blockchains introduzem o armazenamento de dados de forma transparente e em modo ‘somente leitura’ (imutável), o que anula a possibilidade de corrupção ao longo de todas as etapas da cadeia. Além disso, torna mais simples e dinâmico o rastreamento do histórico dos artigos, que pode ser feito através da leitura de um simples código de barras em um sistema universal. 

Volkswagen

A empresa está utilizando blockchain para combater um tipo de fraude comum no setor, a adulteração de velocímetros. A iniciativa impedirá que vendedores de carros desonestos possam oferecer veículos com quilometragens enganosas, aumentando a segurança e protegendo os clientes contra golpes.

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Ford

A Ford está empregando um rastreamento de matéria-prima por blockchain por razões éticas. O artigo de interesse é o cobalto, usado nas baterias de lítio. Esse metal tem sido minerado por intermédio de exploração infantil em alguns países, como a República Democrática do Congo. 

Hyundai

A empresa está criando um ecossistema blockchain financeiro com inteligência artificial em nuvem, de forma a automatizar processos manuais, reduzir custos e melhorar a experiência de compra. 

Mobility Open Blockchain Initiative (MOBI)

O MOBI é um consórcio sem fins lucrativos que pretende criar padrões blockchain voltados para a facilitação do transporte mundial, tornando-o mais eficiente, igualitário, sustentável e descentralizado. O consórcio já tem o apoio da Ford, BMW, Renault e General Motors.

Indra

A empresa Indra agora oferece sistemas de pagamentos em blockchain para pedágios de rodovias. Pedágios com caixas automáticos já são comuns em muitos países, mas golpes também são frequentes, tanto para motoristas quanto para as administradoras de rodovias.

A solução foi desenvolvida no projeto CRITICAL-CHAINS, com financiamento da União Europeia, e está sendo lançada em primeira mão no México.

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Possíveis aplicações futuras

Além das possibilidades de uso mencionadas, temos ainda diversas outras que podem ser desenvolvidas nos próximos anos. Alguns exemplos são:

Históricos de veículos

A criação de um registro oficial do histórico dos veículos, um documento adicional na forma de um tipo de passaporte, pode proteger os compradores de carros usados. Reparos, contratos e históricos com seguradoras, proprietários anteriores, tudo isso ficaria disponível para consulta diante de uma venda. A própria posse e a documentação do carro podem vir a ser registradas através de blockchain.

Aplicativos de transporte

O uso de blockchain poderá mudar a forma como utilizamos apps como Uber, tornando-o mais eficiente e sustentável e melhorando o compartilhamento de veículos. Uma das grandes vantagens será a eliminação de intermediários, estabelecendo operações diretas entre motoristas e passageiros. 

Redes de tráfego automático

Veículos autônomos, sem motoristas, serão uma realidade em algum momento. O funcionamento dessas redes de transporte fará uso de redes de dados de localização e condições de operação (clima, anormalidades, fenômenos de tráfego, etc.).

Tudo isso será possível através de uma rede blockchain, onde os nós (nodes) colocarão informações individuais e o sistema terá livre acesso a elas, de forma confiável e dinâmica.

Sobre o autor

Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. Atua como Business Development Manager Brasil na Kucoin.