O mercado de Bitcoin teve grandes avanços em infraestrutura no ano de 2019, principalmente com o crescimento dos derivativos e bolsas reguladas de negociação de contratos futuros para investidores institucionais.
Investidores institucionais são representados por grandes instituições como seguradoras, fundos de pensão e grandes fundos de investimentos. Eles atuam em diferentes mercados de capitais oferecendo liquidez. No entanto, a regulação ainda é alvo de preocupação desses investidores. Ainda falta clareza no ambiente regulatório até que o ativo seja listado em bolsas como ETF.
O próximo ano é muito aguardado pelos participantes do mercado. Estamos prestes a presenciar mais um halving, que irá cortar pela metade a emissão de novos Bitcoins. Além desse evento, o que devemos esperar do Bitcoin para 2020?
Amadurecimento da infraestrutura e avanços em regulação
Em 2020, será possível ver ainda mais madurecimento do mercado internacional com aumento de volume e liquidez dos novos instrumentos financeiros (Mercado Futuro, Derivativos e Opções). É esperado maior desenvolvimento do mercado de derivativos com a expansão das operações de bolsas de negociação de contratos futuros de Bitcoin como CME (Chicago Mercantile Exchange) e Bakkt, o que gera a expectativa no aumento do número de fundos de criptoativos e avanço da aprovação de um ETF de Bitcoin.
Também devemos esperar avanços em regulação nas Comissões de Valores Mobiliários, principalmente nos Estados Unidos e países da Europa. A ideia de mais clareza na regulação é que cada vez mais pessoas físicas e gestores de carteiras de fundos de investimentos possam se expor diretamente ao Bitcoin de forma segura, o que já é possível através da Grayscale e Fidelity Digital Assets. No entanto, ainda falta segurança jurídica, dado que criptoativos ainda estão em área cinzenta.
No Brasil, já é possível investir em fundos, como BLP Crypto e Hashdex, que são distribuídos em corretoras tradicionais como Ágora e XP Investimentos. No entanto, esses fundos investem em outros fundos estrangeiros que estão expostos a criptoativos. A ideia é que esses fundos possam se expor diretamente a esses ativos, com uma custódia segura no Brasil.
A tendência para 2020 é ver um aumento no rigor de procedimentos de identificação de cliente e reporte de operações por parte das corretoras ao redor do mundo. A IN 1888 da Receita Federal e a 5AMLD da União Europeia são instruções que obrigam que corretoras monitorem e reportem transações dos clientes com criptomoedas, além de implementar maior grau de controle em processos de KYC (Conheça Seu Cliente). Uma tendência é que impostos sejam cobrados diretamente na fonte, como já é feito na negociação de ações na bolsa de valores.
Até pouco tempo atrás não existia toda essa infraestrutura de regulação e ambiente mais seguro para investidores institucionais, mas ela está sendo construída rapidamente, então será só uma questão de tempo para o Bitcoin começar a ser negociado na bolsa de valores, como se fosse uma ação, através de um ETF.
Outra tendência é o aumento da transparência no volume de Bitcoins negociados nas corretoras. A falta de transparência de volume negociado se tornou preocupante quando um relatório da Bitwise apontou que o verdadeiro volume do mercado de criptoativos era apenas 5% do que estava sendo reportado.
A morte da moeda digital e a ascensão do Digital Gold
O excelente texto “Visions of Bitcoin”, de Nic Carter, relata o crescimento da narrativa de Bitcoin como um ativo digital de reserva financeira, isto é, o hedge (proteção) último contra crises mundiais ou hiperinflação. Veja a mudança de narrativas:
A narrativa defende a hipótese de que o Bitcoin poderia ser colocado na mesma categoria do Ouro como uma espécie de “garantia” ou “lastro” financeiro, se beneficiando da volatilidade na economia mundial, que segundo Ray Dalio, está próxima de acontecer.
É preciso lembrar que essa hipótese jamais foi testada, embora as características robustez e de escassez programada do Bitcoin casem perfeitamente com essa narrativa. O ouro ainda é a reserva de valor dominante e seguirá assim por centenas de anos. Quem sabe o Bitcoin conseguirá pegar carona
A Grayscale, por exemplo, acredita nessa hipótese. Tanto é que uma de suas campanhas de publicidade está baseada no slogan “Drop Gold, Buy Bitcoin” (Saia do Ouro, Compre Bitcoin).
Por outro lado, as stablecoins (criptomoedas ou tokens pareados e lastreados 1:1 com o dólar americano) podem ofuscar o Bitcoin como meio de pagamento. Eles possuem menos volatilidade e as transações podem ocorrer mais rapidamente. Portanto, a tendência é ver mais pessoas comprando Bitcoin para “encarteiramento” do que utilizar como meio de pagamento em si, o que não é necessariamente negativo.
Afinal, segundo a Lei de Gresham: é melhor gastar o dinheiro de qualidade ruim (que se desvaloriza) do que gastar o dinheiro de boa qualidade (que conserva valor com o passar do tempo). No entanto, o Bitcoin passa a ganhar espaço como um commodity digital extremamente escassoe descentralizado.
Privacidade na primeira camada do Bitcoin em 2020
Também é possível notar boas perspectivas de propostas que buscam melhorar a privacidade nas transações de Bitcoin. No entanto, isso pode demorar um pouco e é pouco provável que as tecnologias mencionadas abaixo sejam lançadas ainda em 2020, mas a tendência é que a discussão sobre privacidade se intensifique.
Não foi possível encontrar nenhuma estimativa de datas para melhorias como o Dandelion e Taproot. De todas essas novidades, acreditamos que até o final do ano o Bitcoin deverá fazer um upgrade que vai permitir as assinaturas Schnorr, que está em um estágio mais avançado entre todas as tecnologias acima.
O que faz o Dandelion: ofusca o endereço IP do primeiro nó de rede que transmite uma transação de Bitcoin).
O que fazem as Assinaturas Schnorr: ofuscam transações multi-assinaturas, que combinadas com o “CoinJoin”, podem embaralhar um conjunto de transações de bitcoin, parecido com o que é feito na criptomoeda Monero.
O que faz o Taproot: possibilita construir contratos inteligentes privados mais escaláveis para o bitcoin.
Lightning Network (LN)
A Lightning Network é a esperança para aumentar a capacidade de transações do Bitcoin, possibilitando transações baratas e instantâneas em uma camada acima da blockchain do Bitcoin. Isso adiciona mais escalabilidade ao ativo, fazendo com que ele seja capaz de ser utilizado como um sistema de pagamentos para pequenas transações. Entenda mais abaixo:
O ano de 2019 marcou avanços na experiência do usuário e facilidade de uso das carteiras que dão suporte para a tecnologia. A Bluewallet, por exemplo, já dá suporte a transações utilizando a tecnologia, oferecendo uma interface limpa e fácil para usuários iniciantes. No entanto, a capacidade financeira da Lighting Network ainda está em decepcionantes US$ 6 milhões.
O grande destaque foi a Bitfinex, uma das maiores exchanges criptomoedas no mundo, adicionando suporte para depósitos e saques utilizando a tecnologia. Isso com certeza abre caminho para que mais pessoas e empresas possam adotar a tecnologia. A tendência para 2020 é um crescimento de aplicações utilizando a tecnologia Lightning Network, expansão da capacidade financeira e o crescimento do número de participantes da rede.
Halving do Bitcoin em 2020
O Halving é um processo programado para cortando a emissão de novos Bitcoins pela metade a cada 4 anos. Em 2012, 25 Bitcoins eram emitidos a cada 10 minutos, esse número caiu para 12.5 em 2016 e vai cair para 6.25 em 2020. Ou seja, os halvings foram criados para provocam aumentar a escassez do Bitcoin, dificultando sua obtenção com o passar dos anos. Estima-se que o último Bitcoin só será minerado em 2140.
A inflação anual do Bitcoin vai cair de 3,69% para 1,80% do dia para a noite em 2020, segundo o BitcoinBlockHalf. Isso cria um grande choque de oferta, afinal, repentinamente metade da emissão de bitcoins será cortada. Pela lei de Oferta e Demanda, se o número de compradores for mantido constante, ou crescer, o preço do Bitcoin inevitavelmente irá subir. Por conta disso, há uma grande esperança de que o Halving irá desencadear uma nova tendência de alta no mercado.
No entanto, muitas pessoas acreditam que esse evento já esteja precificado e, por isso, poderíamos ver uma grande queda de preço logo após o halving, assim como ocorreu com o lançamento da Bakkt. O mercado cria expectativas exageradas, faz o preço do ativo subir e logo depois se depeciona, fazendo o preço do ativo cair. No entanto, essa hipótese só se sustenta em mercados eficientes, que não é o caso do mercado em que estamos.
É possível o processo esteja no meio do caminho, com o halving parcialmente refletido no preço do Bitcoin. Mas é preciso se lembrar que os mercados são irracionais e que, esse evento pode criar expectativas exageradas nas pessoas no ano que vem, gerando uma grande força compradora, levando a um grande aumento no preço do ativo.
Uma imagem para se lembrar no próximo ano
Por mais que esses avanços sejam importantes, é preciso se lembrar que o mercado se encontra em estágio inicial. O Bitcoin foi criado em 2009 e ganhou evidência apenas em 2013. Desde então, o ativo deu início a uma nova indústria e avançou rapidamente em termos de infraestrutura e tecnologia. A imagem abaixo é um lembrete perfeito disso:
Por fim, 2020 será mais um grande ano de avanços para o Bitcoin. Jamais poderemos adivinhar qual será o preço, mas estar diante de boas perspectivas favorece muito os fundamentos do ativo. Particularmente, estou muito otimista com o Bitcoin para 2020, tanto em preço quanto em avanços na infraestrutura.
*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.
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