Estamos nos aproximando de mais um halving na história do Bitcoin. O evento geralmente traz grandes impactos sobre o mercado e a rede, o que deixa muitos mineradores e investidores ansiosos. A princípio, os impactos já conhecidos são:
- Diminuição da taxa de emissão de novos Bitcoins pela metade;
- Aumento da escassez do Bitcoin, gerando mais pressão sobre o preço;
- Diminuição da receita dos mineradores no curto prazo
Entendendo a produção de Bitcoins
Antes de entender o que é halving, é preciso uma breve introdução sobre a produção de Bitcoins. Se você não sabe, eles são criados através de um processo chamado de mineração, um dos principais responsáveis por manter a segurança e a sustentabilidade da rede do Bitcoin.
Os mineradores emprestam seus computadores para verificar e registrar todas as transações de Bitcoin já feitas na rede. Um conjunto de transações de Bitcoins é armazenado em um bloco, que é criado a cada 10 minutos com novos registros de transações mais recentes na rede.
Cada novo bloco de transação é dependente do bloco anterior. Para que cada bloco seja aceito na rede, o minerador precisa encontrar uma função (hash) que seja compatível com a identidade do bloco anterior. Ao fazer isso, ele mostra sua prova de trabalho para todos os outros participantes.
Se a maioria concordar com os registros do minerador, o novo bloco será incluído na rede e ele receberá uma recompensa em Bitcoins. Satoshi Nakamoto, criador do sistema, pensou na mineração como uma forma de recompensar os participantes da rede, mantendo-a sustentável e segura.
O que é Halving?
O halving é um evento programado para ocorrer a cada 210 mil blocos minerados da rede do Bitcoin, o que leva aproximadamente 4 anos. Esse evento corta a emissão de Bitcoins pela metade, criando um choque de oferta (produção) e aumentando a escassez do ativo no mercado.
Em 2012, eram emitidos 25 BTCs a cada 10 minutos (tempo de mineração do bloco). Em 2016, esse valor caiu para 12,5 BTCs. O próximo halving ocorrerá aproximadamente em maio de 2020 e, depois disso, serão criados 6,25 BTCs a cada 10 minutos, e assim por diante.
Esse mecanismo foi criado para reduzir a velocidade da emissão de Bitcoins, criando um ativo escasso e com maior longevidade em sua emissão. Evitando a superprodução, o que poderia desvalorizar o ativo no curto prazo. Satoshi Nakamoto também estabeleceu um limite que chega perto de 21 milhões.
Também foram criados outros mecanismos para desacelerar a emissão de Bitcoins, como o ajuste de dificuldade de mineração. Caso os computadores se tornem muito eficientes em minerar Bitcoins, a rede irá aumentar a dificuldade de mineração, diminuindo a eficiência das máquinas atuais.
Por conta disso, estima-se que o último Bitcoin será minerado no ano de 2140. Apesar da existência de um limite de 21 milhões de Bitcoins, um número menor de unidades deverá estar circulando quando todas as moedas forem emitidas, já que mais de 4 milhões de unidades foram perdidas para sempre.
Muitos usuários que mineraram Bitcoin no começo perderam o acesso às suas carteiras de forma definitiva, não podendo mais gastar suas moedas.
Olhando para o Bitcoin como uma moeda, poderíamos dizer que ele seria não inflacionário. Isto é, sua inflação é programada e sempre tenderá a diminuir com os futuros halvings e eventuais moedas perdidas para sempre na rede.
Como conteúdo adicional, recomendo um vídeo de Daniel Duarte. Ele explica com clareza a dinâmica do Halving.
Qual o impacto do Halving sobre o preço?
O preço do Bitcoin, como em qualquer ativo financeiro, é determinado através da procura (compradores) e da oferta (produtores e vendedores). O halving proporciona um forte choque de oferta no curto prazo, afinal, ele corta a produção do ativo pela metade.
Se a procura por Bitcoins se mantiver constante, a tendência é que o ativo apresente uma valorização no futuro. Para comprovar isso, basta olhar o gráfico do Bitcoin em escala logarítmica.
Muitas pessoas questionam essa tendência de valorização do Bitcoin, afinal, o halving é um evento conhecido e aguardado por todos os participantes. Ou seja, é uma informação pública e de conhecimento do mercado. Logo, os participantes não teriam se antecipado ao evento e transmitido essa informação para o preço?
Esse comportamento realmente acontece em mercados eficientes, como o mercado financeiro. Conforme descrito no texto sobre Fatos Relevantes, os investidores se antecipam e incorporam ao preço os eventos futuros (precificação). No entanto, esse não é o caso do Bitcoin, principalmente por dois motivos: o mercado não é eficiente e ainda é muito pequeno.
Então vale a pergunta: O halving está precificado ou não? Sim, esse evento já está precificado para quem está participando no mercado agora, com as informações disponibilizadas até hoje.
Contudo, ele não está precificado para quem estiver entrando no mercado amanhã, afinal, é um mercado muito pequeno ainda e a escassez será sentida pelo novo participante. Por isso, o halving não estará precificado para quem entrou depois.
O excelente vídeo do Bitcoinheiros discute essa questão de precificação do halving. E nesse ponto, tendo a concordar com os argumentos apresentados pelo Allan no vídeo em questão.
O modelo stock-to-flow (taxa de escassez)
Um perfil do Twitter, sob o pseudônimo de PlanB (@100trillionUSD) criou um modelo estatístico baseado no impacto do Halving sobre a escassez do Bitcoin. A sua hipótese é de que o Bitcoin pode ser comparado a metais preciosos e escassos como Ouro e Prata, por exemplo.
Esses metais têm a chamada “taxa de escassez”, que é uma razão que calcula quantos anos o ritmo de emissão anual do ativo levaria para alcançar o estoque total já produzido. Quanto maior a razão, maior será a taxa de escassez do ativo e, portanto, seu preço tenderá a ser maior que ativos menos escassos.
PlanB encontrou uma forte correlação entre aumento de taxa de escassez e aumento de preços nas commodities, como Ouro, Bitcoin, Prata e Diamantes. Portanto, seu modelo prevê que o Bitcoin irá se valorizar exponencialmente a cada corte na sua produção. Confira abaixo:
Esse modelo pode ser utilizado da seguinte maneira: se o preço estiver abaixo da linha azul (stock-to-flow) o Bitcoin estará barato em relação ao seu real valor. Por outro lado, se o preço do ativo estiver acima da linha azul, o Bitcoin estará muito valorizado.
Atualmente, a taxa de escassez do Ouro é de 62. Ou seja, levariam 62 anos para minerar todo o estoque de Ouro já existente. A taxa de escassez do Bitcoin é 27 e subirá para 54 com o halving de 2020. Em 2024, essa taxa subirá para 114, o que tornaria o Bitcoin quase 2 vezes mais caro do que o Ouro.
E quando a recompensa de mineração for muito baixa?
Os halvings diminuem a receita dos mineradores no curto prazo, afinal, haverá menos Bitcoins para receber após a mineração de cada bloco. A tendência é que os mineradores menos eficientes saiam do mercado.
Além da recompensa por adicionar blocos de transações na rede (mineração), os mineradores recebem as taxas de transações de Bitcoin (fees). Todas essas taxas já são incluídas no bloco juntamente com a recompensa.
Os usuários de Bitcoin já pagaram mais de US$ 1 bilhão em taxas de transação em toda a história da rede. Com a adoção de Bitcoin, a tendência é que mais pessoas paguem por taxas de transação, o que poderia aumentar a recompensa de mineradores no futuro.
No entanto, a ausência de recompensa de Bitcoins é um cenário completamente desconhecido que ainda carece de estudos mais aprofundados.
Está preparado para o próximo halving?
A valorização do Bitcoin após esse evento é uma tendência, não uma garantia. Além disso, não necessariamente o futuro repetirá o passado. Pode existir um cenário no qual o Bitcoin não subirá após o halving.
Por exemplo: baixo interesse da população, adoção permaneça a mesma, ou alguma falha crítica no Bitcoin pode ser encontrada. São riscos que todos os participantes do mercado estão sujeitos a correr.
Eu também não ficaria surpreso caso o preço do Bitcoin caia logo após o halving. Afinal, como foi dito acima, o evento está precificado para os participantes atuais do mercado, mas ainda não foi precificado para os novos entrantes.
Portanto, o efeito dos halvings só será sentido com o aumento da adoção. Isto é, quando mais pessoas entrarem no mercado e se depararem com um ativo extremamente escasso. A melhor maneira de se preparar para esse evento é através da prática de preço médio, com a acumulação de Bitcoins com o pensamento voltado para o longo prazo.
Se interessou pelo tema? Quer saber mais? Nosso Meetup é a oportunidade perfeita para você aprender mais. Ele ocorrerá no próximo dia 4 de fevereiro, no Distrito Fintech (Av. Rebouças, 1585), às 18h30. Os ingressos custam R$20 no link: http://bit.ly/bitcoin-preco2020
*Texto escrito por Lucas Bassotto e publicado originalmente pelo site Investificar.