Apesar dos inúmeros avanços, tanto em tecnologia como em regras de negócio, mesmo os mais promissores projetos de criptomoedas apresentaram, durante o seu ciclo de vida, ao menos um problema recorrente: a volatilidade brusca de preços.
Nos últimos anos, diversas iniciativas foram criadas com a missão de mitigar as curvas de ascensão e queda do mercado. A maior parte delas não foi bem-sucedida. Aquelas que obtiveram sucesso, ficaram conhecidas como stablecoins (moeda estável, em Inglês). Neste artigo, conheceremos uma das mais populares stablecoins da indústria dos ativos digitais: o Tether.
O que é o Tether?
O Tether (USDT) é uma criptomoeda categorizada como uma stablecoin e visa ser um ativo digital estável e capaz de sofrer menos com oscilações de preços que outras criptomoedas.
Isso acontece porque o seu lastro (garantia de valor) é, ou pretende ser, baseado em uma moeda fiduciária. Ou seja, uma moeda corrente e utilizada no dia a dia. No caso do Tether, o Dólar Americano.
Assim, desde o seu lançamento em meados de 2014, o projeto buscava ser uma solução inovadora para reduzir os “sobe e desce” de cotações, como as que ocorrem com outras criptomoedas como o Bitcoin, Ethereum e Ripple.
Para contornar o problema, a solução proposta foi a de se ter um Dólar Americano guardado em caixa para cada Tether emitido. Isso faria com que a paridade real — ou equivalência — da moeda fosse de 1:1 (um por um). Algo extremamente difícil de ser feito com moedas fiduciárias. Muito mais sendo um processo iniciado por uma cripto.
Para que se tenha uma noção, não há nenhuma moeda corrente no mundo que possua uma paridade de 1:1 com o Dólar Americano. Isto pode ser conferido nesta tabela oferecida pela OCDE.
É a partir dessa conclusão de que a paridade teórica de 1:1 não existe na realidade, que várias empresas, órgãos governamentais e especialistas em finanças são bastante desconfiados do Projeto Tether.
Desde sua fundação, nunca foram dadas explicações convincentes o suficiente sobre como os processos ou métodos de obtenção da paridade seriam executados. Mas antes de continuarmos com essa questão, vejamos alguns detalhes sobre a sua criação.
A Criação do Tether
A cripto que conhecemos hoje pelo nome de Tether (correia ou corda, em Inglês), foi lançada com o nome de RealCoin em julho de 2014. Os primeiros tokens foram emitidos em outubro do mesmo ano utilizando a blockchain do Bitcoin como base tecnológica por meio do Omni Layer Protocol.
Ainda em 2014, mais exatamente no dia 20 de novembro, o CEO do projeto, Reeve Collins anunciou a mudança no nome do empreendimento que desde então passou a se chamar Tether.
O projeto entrou na fase beta e passou a distribuir tokens em 3 formatos:
- USTether (US+) para os Estados Unidos e Dólar Americano;
- EuroTether (EU+) para Euro;
- YenTether (JP+) para o Yen japonês.
Até essa ocasião, a empresa afirmava que: “Cada Tether+ token é garantido 100% por sua moeda original e pode ser resgatado a qualquer momento, sem exposição ao risco de câmbio”.
Outros fundadores do projeto são: Brock Pierce e Craig Sellars, ambos membros da MasterCoin Foundation.
Principais Controvérsias
Diversos especialistas, desde o início do projeto, sempre questionaram a ausência de transparência na metodologia adotada pela empresa emissora da criptomoeda para a obtenção da paridade prometida.
Em 2019, foi anunciado que a paridade real da moeda não seria de 100% conforme relatado pela emissora, mas sim de apenas USD$ 0,74 em dinheiro e equivalentes. Além disso, descobriu-se que o Tether possuía apenas 74% de suas moedas lastreadas em dólar.
Outro caso que merece destaque é a acusação feita pelo Procurador-Geral da cidade de Nova York contra a exchange BitFinex de utilizar fundos de tether para cobrir cerca de USD$ 850 milhões em “fundos ausentes” desde meados de 2018.
Benefícios do Tether
Mesmo estando envolto em uma série de problemas e outras fricções, a adoção e utilização do Tether é capaz de gerar uma série de benefícios para seus usuários e investidores. Os principais pontos positivos da moeda são listados abaixo:
A baixa volatilidade de preços
Existem muitos riscos a serem assumidos quando se tenta transacionar no mercado de ativos digitais. Isto se agrava caso se tenha o interesse em vender uma criptomoeda para a aquisição de uma outra.
Como o mercado de criptos funciona 24 horas por dia, é possível que você compre um moeda por um preço e, por conta de algum evento no outro lado do mundo, seu valor tenha se depreciado de 2 a até 3 vezes no mesmo dia. Acredite, esse sobe e desce é bastante comum.
Para ter uma ideia mais clara sobre esse tipo de situação, veja o passo a passo abaixo. Ela ilustra o processo de compra, de venda, e compra de dois criptoativos:
- Você tem interesse em comprar Ethereum (ETH). Para isso, vende os seus Bitcoins;
- Para sua surpresa, o preço do ETH aumenta em 10% uma hora depois;
- Aproveitando a oportunidade, você quer vender ETH e comprar BTC com o lucro;
- Mas enquanto negocia a venda, o preço do Bitcoin cai 17%.
Assim, mesmo com as potenciais vantagens da venda do ETH (10% de ganho), você ainda teria prejuízo por conta da queda do BTC (17% de queda). Ao utilizar o Tether, por ser uma criptomoeda mais estável, sua única e exclusiva preocupação seria a cotação do Ethereum.
Lembrando que mesmo a paridade entre o Tether e o Dólar Americano não sendo de 100%, você ainda estará negociando muito próximo da cotação do Dólar. Isso faz com que você evite situações de perda entre as trocas de criptomoedas.
Taxas de Transação
As transferências realizadas via SWIFT, internacionais de banco para banco, são muito caras. Imagine enviar dinheiro para um parente que mora nos EUA, por exemplo. Além da conversão da moeda, a taxa da transação pode chegar até 20 dólares.
Ao utilizar o Tether, sua taxa de transação é zero caso você esteja utilizando as carteiras da própria criptomoeda.
Larga Adoção
A facilidade de se trabalhar com o Dólar Americano por meio do Tether popularizou bastante o seu uso em várias exchanges de criptomoedas e plataformas.
Isso ocorre, principalmente, devido a falta de recursos que esses players teriam para utilizar o a moeda americana na garantia de liquidez junto aos seus mercados. O tether abriu essa possibilidade.
Termômetro de Mercado
Quando o mercado segue em uma tendência de queda ou baixa, é natural que os investidores busquem ativos mais estáveis e menos voláteis. No geral, eles buscam stablecoins como o Tether para preservar o valor de seu capital, elevando seu valor de mercado.
O oposto também é válido. Em uma alta, é natural que os investidores queiram vender seus tethers para a compra de criptos em plena valorização. Assim, temos a saída de capital investido em tether e sua consequente desvalorização.
Como comprar
É bastante comum que usuários brasileiros utilizem exchanges internacionais para a aquisição do Tether. Porém, como essas corretoras operam em dólar, a compra a partir do trio Real –> Dólar –> Tether não faz muito sentido por conta das oscilações de cotação entre o Real Brasileiro e o Dólar Americano.
Assim, a compra a partir do par Real –> Tether é possível de ser realizada em algumas exchanges nacionais.
Como armazenar
Uma vez que você já tenha criado uma conta no website oficial do Tether e ela tenha sido verificada, você pode depositar USD₮ (ou EUR₮, e outros) em sua Conta Tether.
Após o login, siga o passo a passo descrito abaixo:
- Vá até Deposit (depósito);
- Lá você verá os seus respectivos endereços de depósito para USD₮ (e EUR₮, entre outros). Para USD₮, você poderá escolher entre um endereço Ethereum ou Omni;
- Inicie a transação da sua carteira externa para o seu endereço ether;
- Uma vez que a transação tenha sido detectada na rede tether, você poderá visualizar o status da transação marcado como Pending (pendente) na Activity Section;
- Ao se completar a transação, o seu saldo será creditado e a transação será marcada com um Complete (completa).
Conclusão
O Tether segue forte no mercado, mesmo diante das controvérsias apresentadas. Hoje, ele é a stablecoin mais popular entre os entusiastas e investidores de criptomoedas.
A coin possui uma larga utilização entre exchanges e empresas. Ambos sempre interessados em fazer o uso da paridade entre o tether e o Dólar Americano para a compra de outros ativos, remessas de baixo custo e para a proteção de capital.
Se as polêmicas envolvendo a moeda serão esclarecidas, apenas o tempo dirá. O que sabemos hoje é que o Tether veio para ficar e já marcou o seu lugar na história das criptomoedas.
Sobre a autora
Beibei Liu é formanda em Engenharia Financeira pela Universidade Internacional de Negócios e Economia (UIBE) em Pequim, China. É co-fundadora do unicórnio de tecnologia asiático Abakus Group e CEO da corretora global NovaDAX, desde sua fundação em 2018.