A madrugada de 12 de março de 2020 irá ficar na memória de muitos, mas em especial para Arthur Hayes, fundador da Bitmex, a maior corretora de derivativos de bitcoin do mundo. A queda no preço, que ultrapassava os 50% no dia, era acelerada pelo movimento de liquidação, ou venda forçada.
Em qualquer contrato futuro, há sempre um comprador – apostando na alta – e um vendedor, que se beneficia da queda. Não há como sair negócio sem cumprir esta regra. No caso de uma queda brusca, o investidor que apostou na alta (long), se estiver alavancado, será obrigado a realizar uma venda, estancando seu prejuízo.
A vantagem de utilizar alavancagem é poder depositar 0,10 Bitcoins de garantia, porém realizar um trade de 1 BTC, por exemplo. Neste caso, o trader está 10 vezes alavancado. Uma alta de 2% resultará num ganho aproximado de 20%. O perigo é uma queda de 10%, que resultaria na perda total do investimento.
Contrato Perpétuo vs Trimestral
O contrato mais negociado na Bitmex é o perpétuo, ou seja, sem vencimento. Você pode manter uma posição comprada (long) ou vendida (short) por tempo indeterminado, no entanto, é possível negociar os contratos trimestrais, conforme imagem abaixo.
Crise de liquidez
No auge do problema, o total de ofertas de compra no contrato perpétuo estava abaixo de US$ 20 milhões. Ou seja, por mais que se tentasse vender a qualquer preço, não havia demanda. A situação era ainda pior nos contratos com vencimento em março e junho, onde o total de ofertas de compra não passava de US$ 3 milhões em cada.
O problema é que o número de contratos em aberto (open interest) no perpétuo estava acima de US$ 400 milhões. Não havia ofertas de compra suficientes para realizar as liquidações forçadas. O problema era mais grave nos contratos trimestrais.
O desfecho da história
Ainda não se sabe ao certo o que ocorreu, pois nem mesmo a exchange se pronunciou. O fato é que durante mais de dez minutos os sistemas de negociação foram desligados. Especula-se que alguém tomou coragem e comprou todos os contratos pendentes de liquidação, causando a alta imediata nos preços.
O que teria acontecido se não houvesse uma intervenção manual para interromper o robô de liquidação? O Bitcoin na Bitmex poderia ter parado em ZERO? São perguntas que só Arthur Hays poderá responder, porém tudo indica que existia sim tal possibilidade. Só nos resta aguardar um pronunciamento oficial.
Sobre o autor
Marcel Pechman atuou como trader por 18 anos nos bancos UBS, Deutsche e Safra. Desde maio de 2017, faz arbitragem e trading de criptomoedas, além de ser cofundador do site de análise de criptos RadarBTC.