Imagem da matéria: Nobel de Economia compara criptomoedas com subprime que causou crise de 2008. Ele está certo?
Paul Krugman. Foto: Shutterstock

O economista vencedor do prêmio Nobel Paul Krugman tem um palanque com muito alcance. O ex-professor de MIT e Princeton tem usado sua coluna no The New York Times para defender o livre mercado, energias limpas e regulamentações financeiras.

E ele não gosta do Bitcoin ou qualquer outra criptomoeda em geral.

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Isso fica evidente em seu último texto, no qual ele compara o mercado de cripto com o das famigeradas hipotecas subprime.

Para aqueles que não estavam prestando muita atenção, ou eram muito jovens para lembrar, na crise financeira de 2008 foram as hipotecas do subprime que deram o empurrão no efeito dominó que se seguiu.

Resumindo: credores deram empréstimos complicados para pessoas que não podiam pagar no longo termo. A maioria dessas hipoteca tinham juros iniciais baixos que iam aumentando com o tempo, a lógica sendo que os proprietários do imóvel pudessem refinanciar o acordo com melhores termos no futuro. Afinal de contas, o preço de casas vai sempre subir, não?

Mas o preço de imóveis parou de subir nos Estados Unidos e muitos americanos não pagaram os empréstimos. O importante é ressaltar que Wall Street tornou essas hipotecas subprime em produtos de investimento e, ao que parece, todo mundo tinha exposição à eles. Os dominós começaram a cair nos EUA e, consequentemente, no resto do mundo.

Krugman aponta que o mercado cripto não é grande o suficiente para produzir uma crise mundial, mas afirma que o mesmo grupo de pessoas afetado pelos empréstimos complexos em 2008 está sendo atingido novamente.

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O colunista do The New York Times cita uma pesquisa do instituto NORC que revelou que 44% dos investidores em cripto não são brancos e mais da metade não tem diploma universitário.

Ele segue e diz que os investidores em Bitcoin e outras criptomoedas “deveriam ser pessoas bem equipadas para fazer esse julgamento e financeiramente seguras o suficiente para arcar com as perdas se os céticos estiverem certos” – o economista deixa claro que não acha que os céticos estejam certos.

Além disso, afirma que os argumentos da indústria cripto sobre democratização do mercado são muito parecidos com os daqueles que vendiam as hipotecas arriscadas.

O professor de filosofia Troy Cross, da Faculdade Reed, implicou com o argumento de Krugman de que um certo grupo de pessoas deveria ser protegido desses mercados e delas mesmas.

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“A última missiva de Krugman: apenas os ricos (principalmente brancos) são inteligentes e capazes o suficiente para investir em criptomoedas. Torne-o ilegal para qualquer outra pessoa”, tuítou.

Alex Gladstein, estrategista chefe da Human Rights Foundation e famoso apoiador do Bitcoin, apontou para a complicada relação da comunidade cripto com os meios de comunicação tradicionais e classificou a coluna como o “pico” dessa inimizade.

Pontos válidos

Ainda assim, Krugman tem pontos válidos, apesar do tom de seus argumentos.

Criptomoedas são ativos de risco por conta da flutuação de preços. Os preços não vão sempre para cima; podem cair. E cair muito, como mostrou o mercado nesse mês de janeiro. O preço atual do Bitcoin (US$ 36.900) é 46% menor que o mais alto de todos os tempos, atingido menos de três meses atrás, segundo dados do Coinmarketcap.

Pesquisa de janeiro mostrou que 30% do Bitcoin está “debaixo d’água”: ou seja os investidores pagaram preços maiores do que o ativo apresenta agora.

Apesar do mercado cripto ter uma tendência de alta no longo termo, o preço não só pode, como de fato cai, assim como ações, commodities e mercado imobiliário.

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Ele também esta certo que algumas pessoas não tem os recursos para investir em cripto – pelo menos no nível que vem fazendo.

Liquidações, queda de preço e ataques hackers em projetos DeFi realmente arruinam a vida financeira de pessoas que tinham todo o seu dinheiro preso em ativos digitais (para registro, algumas pessoas pensam que o dinheiro tradicional também é arriscado. “E quanto ao crash do dólar via inflação nos Estados Unido?”, tuítou Tyler Winkiveloss, fundador da corretora Gemini, em resposta a Krugman. “Bitcoin conserta isso”).

Laranjas com maças

Mas Krugman também está comparando maçãs com laranjas. Hipotecas subprime eram particularmente arriscadas por conta do aumento de juros nos pagamentos. A não ser que você esteja em uma posição muito alavancada, você em geral não precisa ficar comprando cripto para pode manter os ativos que já tem.

Mais importante que isso, parte do argumento que ele se apoia é que apenas os proprietários de casas teriam tomado riscos com o subprime. Mas os credores também estavam tomando um grande risco e também as milhares de empresas que emitiram esse ativos. O banco de investimentos Bear Stearns, gigante de Wall Street, colapsou exatamente por isso.

Investimento irresponsável não é um bastião exclusivo de pessoas com pouco dinheiro.

*Artigo de Jeff Benson. Traduzido e editado com autorização do Decrypt.co.

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