O mercado financeiro tem uma das diferenças salariais mais discrepantes entre homens e mulheres, segundo um levantamento feito pelo site Quero Bolsa, que leva em conta dados do Caged de 2021.
Encabeçando a lista está a profissão de trader, que tem salário médio 31,57% menor para mulheres, uma diferença bem acima da registrada no já desigual cenário brasileiro, no qual a diferença salarial média por gênero entre todas as profissões é de 22%.
As dificuldades relacionadas à igualdade de gênero no mercado financeiro se aprofundam quando o assunto é o mercado de criptomoedas. Na área, as executivas são uma fração do total de profissionais de primeiro escalão. Um estudo realizado pela empresa Crypto Head em 2021 apontou que apenas 4,13% das empresas de criptoativos foram fundadas por mulheres.
No Brasil, esse cenário é tão ou mais desigual que o registrado nos principais mercados do planeta, embora haja casos importantes de inclusão de mulheres em diferentes áreas da empresa. Ainda assim, lideranças femininas e colaboradoras no mundo cripto por aqui são raríssimas, embora existam mulheres qualificadas de sobra para contribuir com o desenvolvimento do mercado no país.
No mundo, entre vários exemplos de executivas qualificadas que conseguiram galgar um espaço entre as lideranças masculinas, vale destacar Flori Marquez, uma das fundadoras da plataforma de empréstimo de criptomoedas BlockFi, que foi incluída na lista de 100 fundadoras femininas de 2021 pela revista Forbes.
A empresa de Flori ultrapassou as 100 mil contas em 2019, quando gerou uma receita de US$ 4,5 milhões, o que fez com que o mercado passasse a ver a companhia com outros olhos. Tanto que, em 2021, a BlockFi levantou mais de US$ 100 milhões em investimento.
Clientes mulheres
Além do grande déficit relacionado ao empreendedorismo feminino no setor cripto, há que se destacar também a ainda baixa participação de clientes mulheres nesse mercado. O mesmo estudo, da Crypto Head, mostrou que menos de 10% dos parceiros em fundos de criptoativos são do sexo feminino.
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Um levantamento feito pelo MB (Mercado Bitcoin) apontou que, em 2022, 11% dos investidores da plataforma no Brasil são mulheres, número pouco acima do registrado pela pesquisa da Crypto Head. A empresa diz que a média brasileira é mais que o dobro da mundial, que detém apenas 5% de mulheres na lista de clientes, o que mostra o interesse das brasileiras pelos investimentos em cripto.
Os dados apontam que quase dois terços das mulheres que investem no mercado cripto e estão na base de clientes do MB têm entre 35 e 44 anos de idade. A maior parte das investidoras (44%) que aportam no mercado de criptoativos se consideram moderadas, e mais de um terço (36%) são conservadoras.
Isso indica uma percepção nesse público de que as criptomoedas podem servir como opção segura para diversificação do portfólio de investimentos. As mulheres, portanto, podem ajudar a dar mais equilíbrio ao mundo cripto, compreendendo esse espaço como mais voltado para aportes que visem o longo prazo, e não como um local para mera especulação e altíssimo risco.
Políticas públicas e iniciativas empresariais voltadas para diversidade de gênero e igualdade de oportunidades são essenciais para construir relações mais igualitárias. Além disso, educação e autonomia financeira para as mulheres são fundamentais para a construção de uma nova realidade.
Como desdobramento das relações humanas, os mercados (de trabalho e de investimentos, neste caso) estão sujeitos aos usos e costumes de toda a sociedade. E só uma coletividade mais igualitária pode dissolver, definitivamente, essas discrepâncias de oportunidade e reconhecimento em diferentes setores de atividade econômica, incluindo o mercado financeiro e de criptoativos.
Sobre a autora
Isabela Rossa é country manager da CoinCloud no Brasil
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