O mercado de criptomoedas dá sequência aos ganhos dos últimos dias apesar da ofensiva da Rússia para controlar a Ucrânia. O Bitcoin (BTC) sobe 1,6% nesta quarta-feira de cinzas (2), negociado a US$ 44.019 nas últimas 24 horas, mostram dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) opera em alta de 3,4%, cotado a US$ 2.998.
No Brasil, o Bitcoin avança 1,19%, negociado a R$ 225.782, segundo o índice do Portal do Bitcoin.
Operam em alta Binance Coin (2%), XRP (0.9%), Terra (5,6%), Cardano (1,2%), Avalanche (1,7%), Polkadot (1,7%), Dogecoin (1,9%) e Shiba Inu (3,9%).
O maior destaque entre as principais criptomoedas é a Solana (SOL), que opera em alta de 9,5% nas últimas 24 horas, 20% no aumulado de sete dias e é vendida a US$ 104.
Em discurso do Estado da União na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que Vladmir Putin está isolado e que “calculou mal” ao decidir invadir a Ucrânia, prometendo mais sanções a oligarcas que apoiam o regime do líder russo.
Autoridades da Europa e Estados Unidos disseram ao New York Times que o crescente número de soldados russos mortos na guerra com a Ucrânia expõe possíveis falhas na estratégia de Putin. De acordo com o Pentágono, algumas unidades russas têm se recusado a lutar.
Com o início da guerra, a demanda por criptomoedas aumentou tanto na Ucrânia quanto na Rússia. O Bitcoin tem sido negociado com prêmio em relação à grívnia, a moeda da Ucrânia, em várias exchanges globais e locais, de acordo com o Wall Street Journal.
Especialistas em criptomoedas buscam uma resposta para o enigma da valorização do Bitcoin, que vai na contramão do mercado acionário esta semana. Em sete dias, o BTC mostra alta de 14,9%, enquanto o Ethereum avança 12,6%, segundo dados do CoinGecko.
Análise de Emily Nicolle, da Bloomberg, destaca que, entre as explicações discutidas pelo mercado, está a possibilidade de que os ativos digitais ganhem terreno em meio às sanções impostas à Rússia, talvez como moedas alternativas. Outra narrativa seria que, após semanas acompanhando as ações, o Bitcoin volta a ser visto como hedge contra a inflação.
O bilionário Mike Novogratz, fundador da Galaxy Digital, acredita que a invasão da Ucrânia pode levar mais pessoas a migrarem do dólar para as criptomoedas, que serviriam como refúgio quando o acesso a bancos tradicionais é bloqueado.
Outro ponto indicado por especialistas à Bloomberg seria a capacidade do setor de agir como uma “força para o bem” considerando as doações em cripto à Ucrânia, que já somam mais de US$ 30 milhões, segundo dados da Elliptic. No entanto, o foco dos reguladores em evitar que criptoativos sejam usados para escapar das sanções poderia desafiar o apelo “libertário” desses investimentos no longo prazo, destaca a análise.
Outros destaques
Alternativa ao SWIFT: Análise do CoinDesk indica que o Sistema de Pagamento Interbancário Transfronteiriço, ou CIPS, da China pode não ser suficiente para compensar o impacto da exclusão de bancos da Rússia do SWIFT. O CIPS possui 75 membros e processa uma fração das transações do SWIFT, com apenas US$ 61bilhões movimentados diariamente.
Micro Bitcoin: A bolsa de derivativos CME Group planeja lançar contratos de opções de micro Bitcoin e micro Ethereum no fim deste mês com o objetivo de atrair investidores de varejo, disse a empresa na terça-feira. Os contratos serão equivalentes a um décimo do tamanho das duas maiores criptomoedas e estarão disponíveis para traders institucionais e pessoas físicas, com previsão de lançamento em 28 de março após revisão regulatória, segundo a Reuters.
Pagamentos no varejo: O recente anúncio do diretor-presidente do eBay, Jamie Iannone, de que a empresa considera aceitar pagamentos em Bitcoin em sua plataforma de comércio eletrônico, uma das maiores do mundo, pode abrir uma nova era para meios de pagamento no varejo digital global, disse o professor e especialista em regulação financeira, Isac Costa, em entrevista ao Valor.
Regulação e CBDCs
Legislação nos EUA: Reguladores dos EUA poderiam usar as leis existentes para supervisionar ativos digitais como criptomoedas sem nova legislação do Congresso, segundo relatório do think tank Center for American Progress (CAP) publicado pela Reuters. No estudo, os autores destacam que uma nova estrutura para cripto poderia enfraquecer a supervisão e criar arbitragem regulatória.
Cripto como penhora: O Supremo Tribunal Federal acolheu decisão do estado de São Paulo de não aceitar criptomoedas como penhora em um processo tributário. A decisão foi tomada pelo ministro Luiz Fux no dia 23 de fevereiro. O estado de São Paulo recusou as criptomoedas alegando que os ativos não possuem “certeza”, “liquidez” e “exigibilidade”, elementos necessários para um bem ser aceito como garantia em um procedimento judicial, informou o Portal do Bitcoin.
Blockchain na Eletrobras: O Ministério de Minas e Energia abriu um edital para contratar uma empresa que forneça serviços de blockchain e possibilite a rastreabilidade do Selo Procel de Economia de Energia, “simplificando o processo de concessão, trazendo controle, transparência e auditabilidade, ao mesmo tempo que aumentem a segurança e garantam sua autenticidade”. O projeto será utilizado pela Eletrobras.
Metaverso, Games e NFTs
Russos bloqueados: A Animoca Brands, uma das maiores empresas de jogos blockchain, suspendeu serviços para clientes russos em resposta à invasão da Ucrânia. Em entrevista à Bloomberg, o cofundador da empresa, Yat Siu, destacou o risco de a companhia ser excluída do sistema financeiro ao fazer negócio com um país sob sanções.
Tributação de NFTs: A Receita Federal se adiantou à regulamentação pelo Poder Legislativo e determinou a declaração dos tokens não fungíveis no imposto de renda. Mas, para especialistas ouvidos pelo Estadão, as NFTS trazem mais um desafio para o Fisco, que encontra diversas limitações para rastrear todas as operações de criptoativos, que só se tornam conhecidas no momento da declaração de imposto de renda, que ocorre anualmente.