Grandes bancos dos Estados Unidos estariam explorando uma iniciativa conjunta de stablecoin para competir diretamente com o crescente domínio da indústria cripto nos pagamentos digitais.
JPMorgan Chase, Bank of America, Citigroup, Wells Fargo e outros estariam em discussões por meio de empresas de pagamentos que co-controlam, como a Early Warning Services e a The Clearing House, de acordo com reportagem do The Wall Street Journal.
Essas conversas dependem da aprovação de uma legislação específica sobre stablecoins, que pode estabelecer diretrizes para que bancos e instituições não bancárias possam emitir esse tipo de ativo digital.
Stablecoins são moedas digitais geralmente atreladas ao dólar americano ou outras moedas fiduciárias e, nos últimos anos, passaram a ser cada vez mais lastreadas por títulos do Tesouro dos EUA.
Embora alguns enxerguem as stablecoins como “desestabilizadoras” para as políticas econômica e fiscal, “indivíduos e empresas veem um enorme benefício”, disse Pedro Lapenta, chefe de pesquisa da Hashdex, ao Decrypt.
E o momento não poderia ser mais oportuno.
Nesta semana, o Senado dos EUA avançou com o GENIUS Act, um projeto de lei bipartidário que visa regulamentar stablecoins de pagamento, definindo padrões de reserva federal, transparência e supervisão dos emissores.
Se o projeto virar lei, as stablecoins podem “acelerar a adoção de ativos digitais” em geral e fortalecer “a tese de investimento no Bitcoin e em outras criptomoedas”, afirmou Lapenta.
Circle e Tether na mira
Mas a questão não se resume aos investidores. Os bancos enxergam o novo ambiente regulatório como um possível sinal verde para buscar formas de desafiar o domínio da Circle e da Tether sobre o mercado de stablecoins, atualmente avaliado em US$ 245 bilhões.
A Circle, emissora regulada nos EUA, lançou sua stablecoin USDC em 2018 em parceria com a Coinbase por meio do Centre Consortium, como uma alternativa ao USDT da Tether, que chegou ao mercado em 2014 baseado na camada Omni do Bitcoin.
Apesar de anos de escrutínio sobre a transparência de suas reservas, a Tether continua ocupando posição dominante no setor. Desde 2022, a empresa divulga relatórios trimestrais de atestação para acalmar preocupações, e atualmente responde por mais de 60% do mercado.
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Por sua vez, a Circle tenta se diferenciar ao promover o USDC como um produto mais alinhado às regras, com atestações de terceiros e maior proximidade com os reguladores dos EUA.
Ainda assim, a empresa enfrentou seus próprios desafios, como a perda temporária de paridade do USDC em 2023 após o colapso do Silicon Valley Bank, o cancelamento do plano de abertura de capital via SPAC em 2022 e a queda de sua participação de mercado.
A entrada de grandes instituições financeiras globais pode em breve testar a força dessas líderes de mercado e começar a corroer sua dominância.
Hong Yea, cofundador e CEO da GRVT, uma exchange on-chain licenciada, disse ao Decrypt que as emissoras nativas do universo cripto ainda têm papel crucial à medida que o sistema financeiro tradicional constrói novas infraestruturas.
“As emissoras de stablecoin nativas do mundo cripto têm um entendimento intrínseco de como funciona o universo blockchain”, disse Yea. “Seus anos de experiência, conhecimento e tentativas são inestimáveis para a construção de uma infraestrutura de stablecoin em nível institucional.”
Ele comparou essa dinâmica ao papel de consultores digitais na transformação de indústrias tradicionais. “O mundo financeiro tradicional pode se beneficiar com a ajuda dos nativos ao entrar na economia on-chain”, afirmou.
Yea acrescentou que, para que os players tradicionais se envolvam seriamente com o setor de stablecoins, os emissores cripto também precisarão se alinhar mais às normas regulatórias.
“Eu defenderia que os líderes do setor adotem uma postura mais proativa em relação às regulamentações e conformidade”, disse. “Sem esforços coordenados dos dois lados, será difícil fazer esse mercado crescer como um todo.”
Por enquanto, as discussões entre os bancos ainda estão em estágio inicial e podem mudar a qualquer momento, segundo a reportagem.
* Traduzido e editado com autorização do Decrypt.
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