moeda de bitcoin com bandeira do brasil ao fundo (2)
Shutterstock

A decisão do governo de eliminar a isenção de impostos para vendas de até R$ 35 mil mensais em criptomoedas e a criação de uma alíquota fixa de 17,5% nos lucros de transações gerou uma reação negativa no mercado cripto brasileiro. O temor é que os clientes possam buscar corretoras sem sede no país para fugir da taxa. 

Na quarta-feira (11), o governo publicou a Medida Provisória 1303, que estabeleceu uma alíquota de 17,5% para lucros de quase todas as aplicações financeiras – e entre elas, as criptomoedas. Já títulos de renda fixa que até então eram isentos de IR, passarão a ter uma alíquota de 5% sobre os lucros. Estão nessa categoria LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), LCIs (Letras de Crédito Imobiliário), CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). 

Publicidade

O MB (Mercado Bitcoin) divulgou uma nota pública manifestando preocupação com a medida e lamentando “que as decisões tenham sido tomadas de forma precipitada, sem diálogo com o setor e sem embasamento técnico, gerando inclusive dúvidas quanto à sua legalidade”.

A plataforma de investimentos em ativos digitais ressalta que a aplicação das novas regras “penaliza diretamente os investidores, enfraquece a competitividade e limita o potencial de desenvolvimento sustentável do país”.

Por fim, o MB disse ter confiança que a medida ainda será debatida com a “seriedade necessária” no Congresso Nacional e que o governo poderá rever ou até mesmo recuar da decisão, “corrigindo distorções e ouvindo os agentes do mercado”.

A Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABcripto) disse por meio de nota que as medidas citadas são “um retrocesso e vão afetar negativamente o mercado local, empurrando investidores para plataformas que não seguem as regras estabelecidas no Brasil e para valores mobiliários isentos desta tributação — criando um desequilíbrio no mercado, comprometendo a arrecadação, a segurança dos investidores e a própria efetividade da regulação”.

Publicidade

A mesma visão é compartilhada pela Associação Brasileira de Fintechs (Abfintechs), que aponta que a eliminação da isenção incentivará o investidor de cripto que opera abaixo dos volumes fixados na antiga regra a migrar suas negociações para exchanges estrangeiras não sediadas no Brasil e sem operação formal em território nacional.

“É uma situação que certamente enfraquecerá o setor de prestação de serviço de cripto ativos no Brasil, favorecendo indiretamente os agentes globais não residentes e não regulares no Brasil”, afirma Diego Perez, presidente da Abfintechs. 

A corretora e criptobanco Bitybank aponta que a medida vai de encontro ao trabalho que o Banco Central vem fazendo nas consultas públicas. “Enquanto o Banco Central tenta entender e classificar as particularidades dos ativos e entidades do setor, esse imposto trata de todos os tokens como uma coisa só. O anúncio da possibilidade dessa regra aparece como uma alternativa ao IOF incidindo sobre cripto, muito discutido semanas atrás, e ele ainda precisa ser discutido e aprovado pelo Banco Central”, afirma a empresa. 

O analista André Franco, CEO da Boost Research, entende que a medida vai trazer uma complexidade a mais, já que irá afetar uma enorme parcela de investidores que eram abarcado pela isenção. “Algumas pessoas vão ser jogadas para a informalidade, pois simplesmente não vão saber como apurar esses impostos”, afirma.

Publicidade

A contadora Ana Paula Rabello, especialista em criptomoedas e criadora da plataforma Declarando Bitcoin, afirma que o texto traz um saldo predominantemente negativo, com alguns pontos positivos.

“Nas corretoras nacionais, a apuração que era mensal passará a ser trimestral e será permitida a compensação de prejuízos (embora restrita a 5 trimestres). Antes, a compensação mais flexível era praticada no exterior, sem prazo máximo para utilização”, disse Rabello.

Mas a especialista lembra que os pontos negativos ainda pesam muito.  “O fim da isenção dos R$ 35 mil, que beneficiava principalmente pequenos e médios investidores; a perda da apuração anual para operações no exterior, que era um ponto muito positivo; e, claro, o aumento da alíquota de imposto”, afirma. 

VOCÊ PODE GOSTAR
Imagem da matéria: Hackers invadem conta do presidente do Paraguai para divulgar golpe com Bitcoin

Hackers invadem conta do presidente do Paraguai para divulgar golpe com Bitcoin

Hackers pediram aos seguidores do presidente que enviassem Bitcoin a um endereço suspeito
Scott Bessent fala em auditório nos EUA - stablecoins

Mercado de stablecoins dos EUA pode ultrapassar US$ 2 tri em 2028, diz secretário do Tesouro

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, disse que número é bastante razoável, mas que mercado pode ser maior
donald trump e bitcoin

Trump promete estimular mercado “claro e simples” para criptomoedas nos EUA

Em evento da Coinbase, Trump citou legislações favoráveis ao setor e disse ser uma “honra” ser chamado de presidente cripto
números e moeda de stablecoins

Lei das stablecoins deve ser aprovada nos EUA semana que vem, sem frear iniciativas de Trump

A legislação GENIUS Act será enviada à Câmara para possíveis revisões; previsão é de aprovação, já que a votação exige apenas maioria simples