A atividade de criptomoedas ligada a golpes conhecidos como “abate de porcos” (“pig butchering”) é 85 vezes maior do que em 2020, com a receita dos golpistas dobrando de 2022 a 2023, de acordo com um novo relatório da Chainalysis.
Golpes como o abate de porcos envolvem o uso de engenharia social para construir um relacionamento online, muitas vezes romântico, antes que a vítima seja enganada e dê ao golpista acesso aos seus fundos.
Várias semanas após o início do relacionamento, o golpista explica que está ganhando muito dinheiro com criptomoedas e sugere que a vítima experimente também. O golpista usa a falta de conhecimento sobre o mercado cripto da vítima para confundi-la e induzi-la a ceder o acesso aos fundos.
“Muitas vezes envolve enganar a vítima para que ela faça algo um pouco mais técnico e que ela não vai entender, como assinar uma transação”, disse ao Decrypt o investigador sênior da Chainalysis, Adam Har.
“Ao longo das semanas seguintes, eles convencem a vítima a colocar gradualmente mais dinheiro naquele aplicativo, quando a vítima simplesmente não tem ideia o tempo todo de que o aplicativo é essencialmente backdoor”, acrescentou.
Os golpes que envolvem romances cresceram, mesmo que o valor total enviado para os golpistas tenha caído, concluiu o relatório. Os esquemas Ponzi, em particular, caíram em volume, o que os autores do relatório associaram ao mercado de baixa de 2023 e a investigações de alto nível que dissuadiram o público.
Impacto financeiro do golpe
A última divulgação de dados do Crypto Crime Report de 2024 da Chainalysis também descobriu que os golpes românticos têm o pior impacto financeiro para as vítimas. O valor médio do pagamento nesses tipo de crime foi de US$ 4.593 em 2023; golpes com NFTs ficaram atrás, com US$ 3.095.
“Geralmente, é muito mais fácil para uma vítima investir uma quantia desproporcional de seu dinheiro em algo quando não se trata de um serviço de investimento terceirizado desconhecido”, explicou Hart. “Mas também, se [um golpe] for direcionado a pessoas individuais, os retornos terão que ser um pouco maiores para o golpista”.
As pessoas que são vítimas de golpes românticos acreditam que estão investindo seu dinheiro em algo com o qual um ente querido está ganhando dinheiro atualmente. Portanto, estão mais dispostas a investir somas maiores de dinheiro, de acordo com os autores do relatório.
Hart explicou que a “violação da sua confiança” torna o impacto não financeiro particularmente difícil de suportar para as vítimas.
“Esta é uma pessoa que eles achavam que realmente se importava com eles, que muitas vezes aparece em um momento vulnerável de suas vidas, e então eles acabam financeiramente arruinados”, disse o analista. “Isso deve ser muito difícil de lidar psicologicamente”.
Por esse motivo, disse Hart, muitos golpes românticos podem não ser denunciados devido à vergonha que os acompanha. Dito isso, uma vez que um golpe desse é relatado, ele tem uma impressão na rede diferente de qualquer outro.
“Os golpistas de ‘abate de porcos’ não colocam todo o dinheiro em um grande pote imediatamente, eles têm endereços que podem ser específicos da vítima, que ainda não foram denunciados ou bloqueados em qualquer tipo de interface de carteira ou em uma exchange”, explicou Hart.
Outros golpes, como os esquemas Ponzi, muitas vezes reúnem o dinheiro das vítimas em uma carteira antes que ocorra o ‘rugpull’ (puxão de tapete).
Quem está por trás dos golpes de ‘abate de porcos’?
Os golpistas que agem desta forma costumam ser de grupos muito organizados que estão vigilantes na lavagem de fundos e na ocultação de suas atividades. No entanto, é difícil não deixar rastros quando eles operam com quantias tão grandes de dinheiro.
Como resultado, alguns golpistas de ‘abate de porcos’ foram pegos. Em dezembro de 2023, uma operação liderada pela Interpol prendeu 3,5 mil supostos golpistas cibernéticos e apreendeu US$ 300 milhões relacionados a esse tipo de crime.
Os relatórios descobriram que as pessoas que enganam as vítimas de ‘abate de porcos’ são muitas vezes vítimas de tráfico de seres humanos.
“A força de trabalho deles é composta por pessoas que eles enganam para que venham para um país como a Tailândia para uma função tecnológica — e então eles basicamente os sequestram e os levam através da fronteira para regiões onde eles têm relações corruptas com as autoridades locais, em áreas como Mianmar”, explicou Hart.
Ele acrescentou que muitas vezes as “vítimas” são forçadas a trabalhar sob ameaça de represálias, o que significa que, “muitas vezes, o golpista do outro lado da linha que está enganando a vítima também é uma”.
Este tipo de operação resultou na entrada da polícia chinesa em Mianmar para prender dois “poderosos senhores da guerra” que lideraram grupos fraudulentos — o que, por sua vez, levou ao envolvimento da China na guerra contra a máfia na região.
*Traduzido com autorização do Decrypt.
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