Caitlin Long é uma raridade no mundo das criptomoedas: uma banqueira com 20 anos de experiência em Wall Street que percebeu a promessa do bitcoin (BTC) logo no início e saiu para criar uma startup cripto por conta própria.
Quando ela fala sobre bancos e o futuro das finanças, as pessoas a prestam atenção.
No mais recente episódio do podcast “gm” do Decrypt, Long compartilhou uma visão interessante: JP Morgan, cujo CEO é famoso por criticar o bitcoin, recentemente teve mais sucesso com cripto do que o Goldman Sachs, um banco mais conhecido pela inovação.
“Goldman, nos primórdios de cripto, era o banco mais receptivo [a cripto]. Culturalmente, existe algo sobre o Goldman que permite e fomenta a inovação, embora eu não tenha sentido isso nos bancos [onde trabalhei anteriormente]”, disse Long, que passou anos no Credit Suisse e no Morgan Stanley.
Atualmente, o Goldman Sachs é mais conhecido no mundo cripto por anunciar, repetidas vezes, empreendimentos cripto chamativos para, depois, suspendê-los. Em 2018, o banco havia lançado uma mesa de negociação (repleta de caras descolados), mas a suspendeu logo em seguida.
Long observa que essa hesitação fez com que Goldman (que voltou novamente para cripto em 2021) ficasse em segundo plano em comparação ao JP Morgan, que está há anos envolvidos com cripto, apesar de uma forma mais discreta.
Mesmo após o CEO Jamie Dimon ter chamado o bitcoin de uma “fraude… pior do que os bulbos de tulipas” em 2017 e resmungou que iriam demitir qualquer um “estúpido” o suficiente para negociar bitcoin, o banco desenvolveu uma unidade cripto bem-conceituada que testou ether (ETH) e stablecoins.
A ironia de o JP Morgan ter criado essa equipe logo após seu líder ter veemente denunciado cripto ainda não está perdida para Long.
“Acredito que ele entenda que o sistema antigo está morrendo”, explicou. “Não irá lutar até a morte, pois muitos bancos não conseguiriam fazer o que ele fez: contratar centenas de pessoas e criar sua própria unidade cripto.”
Mas todos os grandes bancos, segundo Long, estão “mais envolvidos desde sempre do que se imagina. É que eles realmente estavam dizendo: ‘Não se envolva [com cripto] se você trabalha aqui’. E eu certamente tive essa impressão no Morgan Stanley”.
Devido à sua própria experiência no Morgan Stanley, Long disse que não se surpreendeu com as declarações contraditórias de Dimon sobre cripto.
Ela relembra que o diretor de tecnologia do Morgan Stanley ligou para ela em 2014 – ainda nos primórdios de cripto – e pediu que ela explicasse o que é bitcoin.
Esse pedido se transformou em aulas durante dois anos com cinco dos principais nomes no Morgan Stanley. Long adorou a experiência.
“[O diretor de tecnologia] era tão cético e eu adorava trabalhar com ele, pois ele realmente me forçava a aprender, justificar e entender aonde ele queria chegar”, disse.
“E realmente ajudou a solidificar minhas próprias opiniões especialmente sobre o bitcoin, mas sobre cripto de forma mais ampla.”
Hoje, é claro, cada banco que se preze está prestando atenção em cripto, incluindo o Goldman Sachs.
Long destaca que a atual iniciativa do banco está sendo liderada por um “parceiro muito, muito sênior; o cara responsável pela mesa de ‘repo’ [acordos de recompra], que é a principal mesa de qualquer grande banco de investimentos” – um indício de que Goldman pretende compensar o tempo perdido.
Seja o que for que grandes bancos farão com cripto, provavelmente terão de lutar não apenas entre si, como também contra rivais, como Long, cuja startup Custodia Bank (anteriormente chamada de Avanti Financial) visa usar stablecoins para fornecer a empresas ferramentas financeiras de fáceis de usar e baseadas em cripto.
Custodia também está prestes a se tornar uma das primeiras empresas cripto a receber acesso ao Federal Reserve.
Long também falou sobre a cultura cripto, identificando-se como uma “maximalista de Bitcoin”, e previu que cripto irá se dividir entre três setores com diferentes opiniões sobre regulamentação.
*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.