Imagem da matéria: Entrevista: "Ganhar dinheiro com jogos NFT será exceção no futuro", diz CEO da Joyride 
Omar Siddiqui, CEO da Joyride (Foto: Divulgação)

Os jogos NFT não ficaram imunes ao “inverno cripto” que mantém estagnado os preços das principais criptomoedas do mercado. O número de usuários e valores movimentados em jogos play-to-earn caíram em maio mas, mesmo assim, essa é a categoria da indústria que melhor resiste aos efeitos do bear market.

Enquanto os jogadores aguardam a volta de tempos melhores, os desenvolvedores trabalham a todo vapor para criar os jogos mais atraentes que justifiquem o tempo, esforço e, principalmente, o dinheiro dos jogadores.

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Já os estúdios que estão de fora, tentam achar formas de entrar nesse espaço antes que seja tarde demais.

A empresa Joyride, criada pelo empresário americano Omar Siddiqui, tenta resolver este problema ao oferecer a desenvolvedores a estrutura necessária para criação de jogos em blockchain.

Antes de criar a Joyride em 2017, Siddiqui atuou como vice-presidente e gerente geral de estúdio da Walt Disney Company e foi CEO da Kiwi, uma empresa de jogos para Android. Atualmente, ele também ministra aulas de design de produtos em Standford.

Siddiqui conversou com o Portal do Bitcoin sobre o atual estado da indústria de jogos NFT e como vislumbra o futuro desse mercado promissor. Leia abaixo a entrevista:

Você criou a Joyride para ajudar empresas a construir jogos baseados em blockchain, mas vocês também produzem seus próprios projetos?

Nós descobrimos que, para desenvolver uma plataforma robusta, também precisávamos usá-la e, assim, temos estúdios internos e estúdios parceiros que estão usando a plataforma e seus recursos em torno do desenvolvimento, lançamento e dimensionamento de jogos web3.

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Além disso, nossa experiência na criação de jogos mainstream para celulares e no crescimento desses negócios nos torna mais do que capazes de desenvolver nossos próprios jogos e atender outros desenvolvedores.

Os jogos NFT ainda tem um longo caminho a percorrer para virar mainstream. Você acha que as pessoas vão se abrir para essa tecnologia em quanto tempo? O que está impedindo essa popularização atualmente?  

Eu acredito que os jogos baseados em NFT estarão prontos para adoção em massa nos próximos 1-2 anos.

A educação do usuário para aprender sobre criptomoedas e NFTs ainda é uma grande lacuna. Precisa existir ferramentas mais fáceis para integrar jogadores casuais a esse espaço sem exigir que eles entendam o que é blockchain.

Finalmente, experiências de consumo de alta qualidade para atrair jogadores como sucessores dos primeiros experimentos brutos, também precisará acontecer. Mas você pode ver em alguns mercados, como nas Filipinas e Vietnã, onde mais de oito milhões de jogadores mensais estão se envolvendo com os primeiros jogos NFT, o potencial desses projetos, apesar das dificuldades em acessá-los hoje.

Você acha que grandes empresas de games veem a Web3 e a ideia de descentralização como uma ameaça, uma vez que pode diminuir seu controle — e lucros — sobre os jogos?

As grandes empresas de jogos certamente olham a Web3 e a ideia de descentralização como uma grande disrupção para seus negócios. Para uma empresa tradicional, é muito difícil imaginar e aceitar uma perda de controle em relação a uma comunidade. Requer repensar como os jogos são construídos, como as comunidades são gerenciadas e como gerar receita sustentável a longo prazo e economia do jogador.

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As empresas que conseguirem desenvolver jogos de sucesso neste novo paradigma têm o potencial real de criar propriedades intelectuais massivas, alimentadas por membros apaixonados da comunidade que são colaboradores ativos e proprietários no empreendimento.

A Web3 permitirá que os jogos — já a maior vertical de mídia — transcendam a mídia interativa e criem conexão com o público de uma maneira que costumava ser reservada para filmes ou livros no passado.

Um dos principais desafios de se construir jogos baseados em NFT é a falta de eficiência das redes atuais. Quais são as alternativas de hoje? Existe uma forma de dar velocidade e transações baratas para os usuários sem sacrificar a segurança?

Existem inúmeras tecnologias emergentes que procuram resolver esse problema, desde as novas redes de primeira camada, como Flow e Solana, que atendem a essas ineficiências, até as soluções de segunda camada, como Polygon. No final, nosso foco está na construção de ótimos aplicativos para os consumidores comuns.

Esse consumidor comum não se importa onde seus dados são armazenados de forma imutável, desde que sejam seguros e acessíveis. Para esse consumidor comum, nos concentramos em torná-lo agnóstico em relação a blockchain por meio do desenvolvimento de nossa Joyride Wallet que pode ser integrada aos jogos de nossos parceiros. Com a Joyride Wallet, um consumidor pode optar por retirar seus ativos para Ethereum, Flow e, em breve, para outras redes, como Solana, sem problemas. 

A noção é que não queremos que os consumidores tenham que escolher onde querem levar seus ativos se quiserem transferi-los para fora de nossos jogos parceiros. Enquanto isso, nos seus próprios jogos, os desenvolvedores podem escolher quais redes vão usar para gerenciar transações. Isso permite continuar na vanguarda da tecnologia blockchain sem limitar os consumidores de forma alguma.

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Os jogos NFT ainda estão em estágio inicial e ainda são poucos títulos que conseguem romper a bolha cripto, como o Axie Infinity. O que falta para que os jogos NFT se tornem mais atrativos para os usuários fora do meio cripto? Mais jogos de alta qualidade, triple A, podem ajudar? 

As perspectivas são muito positivas. Como você sabe, os jogos casuais de celular representam mais de US$ 60 bilhões/ano em receita, com 2,7 bilhões de jogadores globais. Os jogos em que esses jogadores estão envolvidos geralmente estão disponíveis gratuitamente, possuem uma comunidade ao seu redor e têm um tempo médio diário de mais de 20 minutos para jogos de celular. 

No momento, todo esse engajamento e investimento nos jogos é feito em economias fechadas, em ativos digitais que não são portáteis ou negociáveis, e que estão sujeitos às restrições e caprichos de um desenvolvedor. Já vimos se formar um mercado cinza para ativos virtuais em grandes jogos, como World of Warcraft.

No futuro, a capacidade de possuir um ativo digital -— um NFT — e poder usá-lo em um jogo, melhorá-lo, investir nele e, em algum momento, vendê-lo para outro jogador, será simplesmente uma expectativa de todos os jogadores.

A portabilidade desses ativos digitais significa que os desenvolvedores de jogos precisam repensar seu design de jogos e como suas economias são construídas em torno desses ativos. Será tão significativa quanto a mudança na última década da venda de jogos no varejo por US$ 60 para modelos free-to-play.

Quais projetos de jogos NFT você está de olho atualmente?

Bem, eu estou focado principalmente em nossos próprios projetos no momento. Nosso jogo para celular Tennis Champs construiu uma comunidade maravilhosa e teve um excelente lançamento de NFT Genesis que se esgotou em 30 segundos. Estamos construindo um ecossistema em torno dele com uma série de jogos de RPG de ação e esportes baseados nesses personagens de Champs.

Também lançamos recentemente o Solitaire Blitz na rede principal após seis meses em beta. Este título é nosso primeiro jogo lançado em nossa série de e-sports para dispositivos móveis, e estamos empolgados em ver como os jogadores respondem à medida que ele cresce e novos títulos desse gênero são criados na plataforma que fornecemos aos nossos desenvolvedores parceiros.

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O atual cenário dos jogos NFT é muito diferente de junho de 2021. Você acha que estamos em um “inverno” dos jogos NFT? Esse é um movimento normal de acompanhar o mercado de baixa, ou é o hype desacelerando?

Acreditamos que todas as novas tecnologias e modelos de negócios passam por ondas de adoção. No final das contas, a noção de que os jogadores vão querer possuir ativos digitais em jogos que jogam por longos períodos de tempo não é chocante. Essa tendência secular vai acontecer. 

Temos uma visão de longo prazo e continuaremos a crescer à medida que a evolução do mercado passa por suas fases.

Em países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, jogos NFT passaram a ser usados como fonte de renda para algumas pessoas, mas com a vida útil de jogos desse estilo se revelou muito curta. Você acha o modelo play-to-earn pode ser algo sustentável a longo prazo? Como?

Preferimos pensar no mercado como “jogar e possuir” versus “jogar para ganhar”. Jogar para ganhar implica que a única razão para jogar é ganhar — mas quantas pessoas “jogam” quando estão “ganhando”? Isso rapidamente se torna um trabalho e, como criadores de jogos, queremos preservar e aumentar a diversão!

Todo jogador pode ser motivado a realmente possuir os ativos, as moedas e o jogo. Alguns jogadores habilidosos podem fazer um trabalho bom o suficiente para que possam realmente “ganhar” — mas isso provavelmente será a exceção e não a regra, como nos esportes profissionais.

O importante é permitir que os jogadores mais comprometidos se tornem membros apaixonados da comunidade nos jogos que gostam de jogar. Com esse objetivo, estamos muito no início e, independentemente do inverno ou primavera das criptomoedas, veremos grandes jogos surgirem com comunidades que impulsionam seu sucesso.

Você considera um problema esse incentivo econômico dos jogos NFT? Quais são os benefícios de incluir NFT em um jogo para além do retorno financeiro ao jogador?

Nenhum jogo deve ser apenas sobre seu retorno financeiro, se for assim, ele deixa de ser um jogo. Dito isso, sempre há uma categoria de “min-maxers” que joga um jogo para “vencê-lo”, para mostrar que podem jogá-lo de maneira economicamente otimizada e “ganhar”. 

Esses jogadores se preocuparão com o retorno econômico e serão motivados por ele, mas se algum jogo estiver sendo jogado exclusivamente por seu potencial financeiro versus seu valor de entretenimento e comunidade, terá um sucesso de curta duração.

Como você imagina que estará o mercado de jogos NFT no futuro, daqui cinco anos, por exemplo? Será comum ter NFT em jogos mainstream?

Os jogos precisarão oferecer NFTs aos membros da comunidade como uma forma dos jogadores realmente possuírem os ativos nos quais estão colocando seus corações, almas e dinheiro.

Se a economia do jogo em si será orientada em torno de NFTs ou se vai tê-los como uma categoria de ativos negociáveis dentro de um jogo, provavelmente vai depender de título e plataforma. De qualquer forma, esse modelo vai se tornar padrão absoluto.

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