Documentário da HBO é envolvente e funciona para bitcoiners e leigos — identificar Satoshi é o de menos | Opinião

No afã de apontar um nome, “Money Electric: The Bitcoin Mystery” se faz valer por explicar de forma sagaz, toda a saga da maior criptomoeda do mundo
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O criador do Bitcoin é Satoshi Nakamoto, talvez o anônimo mais famoso do mundo (Foto: Shutterstock)

A sabedoria popular diz que o importante é a caminhada, e não o destino. E essa máxima se aplica bem ao novo documentário da HBO, que busca identificar quem é Satoshi Nakamoto, o criador do Bitcoin. No afã de apontar um nome, “Money Electric: The Bitcoin Mystery” se faz valer por explicar de forma concisa, mas sagaz, toda a saga que a maior criptomoeda do mundo passou até chegar nos dias atuais. 

Aliás, já estava na hora de o Bitcoin ser alvo de um documentário bem feito, com roteiro e edições de ponta. A HBO é notória por ser meticulosa em seus projetos originais e dessa vez não foi diferente. O filme é sólido e engajante, mesmo que às vezes force a barra com a trilha sonora berrando ao espectador: “Preste atenção, esse é um momento revelador!”. Se você tem algo forte a contar, nada mais forte do que ser sutil ao entregar. 

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Os primeiros vinte minutos são extremamente básicos em explicar o que é o Bitcoin, um básico do que é a blockchain e como esse sistema funciona. É uma explicação válida e bem ilustrada com as imagens, vídeos e passagens feitas por CGI (imagens geradas por computador). 

Depois, para usar uma expressão que fale ao coração dos maximalistas, o filme vai forte em direção à toca do coelho. Me pergunto se as especificidades da historiografia bitcoiner interessam a um público mais amplo e leigo, mas para quem lida com isso no dia a dia é um recap deveras interessante. 

Para início de conversa, ganharam vida diversos nomes quase sem rostos (fora antigas e poucas fotos): Adam Back tem uma participação intensa e o elusivo Nick Szabo dá uma mini entrevista à contragosto. 

O documentário vai bem ao contar como a “Guerra do Tamanho dos Blocos” dividiu a comunidade e quem eram os cardeais dessa guerra dos tronos. Poucas vezes vi um material que se propõe a ser simples, explicar essa passagem de forma tão clara e expondo algumas contradições interessantes (estaria o grupo em favor do bloco pequeno impedindo de forma consciente o uso do Bitcoin como dinheiro?). 

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Dentro desses nomes que ganharam rostos está Peter Todd, que foi eleito como Satoshi Nakamoto pelo diretor. O programador claramente se deleita em brincar com a hipótese de ser apontado como criador do Bitcoin, provoca, entra nas pilhérias, aponta para becos sem saída ao mesmo tempo que sugere novas estradas para as teses. 

De qualquer forma, é a caminhada que interessa. Na busca por apontar um Satoshi, o diretor faz dentro do que é um limite razoável de um documentário um bom recap das participações de Satoshi Nakamoto no lendário Bitcoin Talk, com quem ele interagia, e mergulha um pouco numa análise psicológica do discurso do criador do BTC.

As bases que o diretor firma para apontar Todd como Satoshi são um “long shot” como se diria nos Estados Unidos. Todd supostamente logou errado com seu nome real e terminou uma análise sobre minúcias das taxas de transação do Bitcoin que havia começado como Satoshi. 

Levanta uma leve pulga atrás da orelha, mas olhando com um mínimo de distância, fica mais semelhante ao fenômeno de viés de confirmação: o diretor seleciona apenas os indícios que sustentam sua tese, ignorando evidências contrárias ou explicações alternativas. Esse tipo de abordagem pode ser intrigante, mas carece de provas substanciais, tornando a conexão entre Todd e Satoshi mais uma especulação provocativa do que uma revelação convincente.

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De qualquer forma, o documentário é divertido e surpreendentemente detalhista no modo como conta a história da criptomoeda. O ano do Bitcoin é como o do cachorro, vale sete anos normais do ser humano. o filme serve como uma pausa para olhar e entender essa loucura: alguém em 2008 fez um código de computador, que gerou uma uma nova subcultura social com seus discursos, signos e crenças e que por sua vez gerou um setor trilionário de economia e centenas de milhares de pessoas tem o Bitcoin como o centro de suas vidas. Olhando assim, qualquer teoria da conspiração parece brincadeira de criança com o que de fato ocorreu.

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