Disputa da Bitfinex e Tether com Justiça dos EUA pode derrubar preço do bitcoin

Na próxima sexta-feira (15), as duas empresas entregam documentos à Procuradoria de Nova York
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Foto: Shutterstock

Correção: A Procuradoria de Nova York começou a investigar a Bitfinex e a Tether em abril de 2019, e não em 2020, como informado anteriormente. O texto foi corrigido.

Desde abril de 2019, a Procuradoria de Nova York (EUA) investiga a exchange Bitfinex e a Tether, empresa por trás da stablecoin USDT. Em síntese, o órgão alega que a corretora perdeu US$ 850 milhões de clientes em 2018 e encobriu o desfalque com USDT. Vale lembrar que as duas empresas são “irmãs” e têm a mesma equipe de gerenciamento.

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Na próxima sexta-feira (15), quase dois anos desde o anúncio da investigação, a Bitfinex e a Tether (empresa) apresentarão à Procuradoria documentos para tentar provar inocência. O desfecho dessa investigação, no entanto, faz entusiastas do mercado de criptomoedas se questionarem sobre o quanto esse imbróglio jurídico pode afetar o preço do bitcoin, que nesta semana teve a maior queda bruta em dólar de toda a sua história.

O medo existe porque o mercado está, de certa forma, atrelado ao USDT. Como muitas exchanges não aceitam moeda fiduciária, a stablecoin — por funcionar como um equivalente ao dólar — serve como um substituta da moeda americana e é usada para compra, venda e arbitragem. Além disso, boa parte dos protocolos de finanças descentralizados – identificados pela sigla DeFi – usam a stablecoin em suas operações.

A importância do USDT para o setor pode ainda ser medida por meio da análise do volume de negociações da moeda. Nas últimas 24 horas, segundo o CoinMarketCap, US$ 96 bilhões de tether foram negociados no mundo, valor superior ao volume do próprio bitcoin, que no mesmo período registrou US$ 64 bilhões. Cabe lembrar, contudo, que é valor de mercado do BTC é muito superior.

Para Fernando Bresslau, líder no Brasil da plataforma Celo e diretor-executivo da ABCripto, a influência da investigação da Procuradoria de Nova York no preço do bitcoin vai depender da decisão que será tomada pelo órgão. Ele falou que se realmente um processo for instaurado após a investigação, o mercado ficaria com dúvidas sobre a Tether (empresa) e o USDT poderia se desvalorizar.

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“Poderia acontecer o mesmo que ocorreu quando tivemos queda do bitcoin por causa da pandemia do novo coronavírus. Investidores tiveram que vender BTC para cobrir perdas em outros investimentos. Então, se muitas pessoas tiverem prejuízo com USDT, elas podem ser colocados em uma situação em que a única possibilidade é vender outros ativos, como o bitcoin, para segurar o prejuízo. É algo que poderia causa a redução do preço do bitcoin”.

Já Vinicius Frias, CEO do Alter, tem uma visão um pouco diferente. De acordo com ele, a Tether (empresa) é uma bomba-relógio prestes a explodir. O motivo, disse, é a falta de transparência da companhia, fato que gerou o problema com a Justiça dos Estados Unidos.

“Uma possível derrocada da USDT pode gerar fuga de investidores para outras criptomoedas. Penso que a preferência deles será o BTC, que tende a ver seu preço valorizar ainda mais. Mas isso é só uma suposição”, disse.

Tether manipula preço do bitcoin?

Existe uma narrativa, que circula no mercado cripto desde 2017, de que a Tether (empresa) manipula o valor do bitcoin por meio da emissão de novas USDT. Essa tese ganhou peso em meados de 2018, quando os pesquisadores John Griffin e Amin Shams, da Universidade do Texas, publicaram um estudo ligando a stablecoin ao aumento de preços do BTC durante o ano de 2017.

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Em 2019, um outro estudo, dessa vez publicado pela empresa TokenAnalyst, constatou que nos dias em que o USDT é emitido na ERC-20 — estrutura usada para lançamento de tokens na blockchain Ethereum —, o preço do bitcoin subiu em 19 dos 27 casos analisados – ou seja, em 70% dos casos. A briga com a Justiça americana pode colocar a teoria à prova.

O que dizem Bitfinex e Tether

Paolo Ardoino, diretor de tecnologia da Bitfinex e da Tether, e Stuart Hoegner, conselheiro geral das empresas, sempre negaram a relação entre a emissão da stablecoin e o preço do bitcoin. Em um podcast publicado nesta semana por Peter McCormack, no canal ‘What Bitcoin Did’, ambos voltaram a reafirmar que a tese de manipulação do valor é infundada.

Disseram ainda que a narrativa é absurda e seria compartilhada apenas por pessoas que não conhecem o mercado de criptomoedas ou céticos, a exemplo de Nouriel Roubini, um dos principais críticos do bitcoin.

“Apesar das alegações infundadas, por enquanto não vamos processar ninguém, pois não somos pessoas litigiosas. Mas isso não quer dizer que nunca faremos’, disse Hoegner na entrevista.

Bitfinex e Tether têm bitcoins

No podcast, McCormack perguntou para os dois representantes da exchange e da criptomoeda qual o papel deles no preço do BTC e se as empresas têm bitcoin em seus balanços. Ardoino respondeu que eles possuem bitcoins, adquiridos em 2015 e 2016, mas não elaborou muito sobre como as criptomoedas são usadas em prol das posições das empresas.

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O que a Procuradoria de Nova York abriu contra a Bifinex e a Tether é uma investigação. O procedimento é parecido com um inquérito administrativo do Ministério Público, aberto para apurar se há fatos que sustentem a abertura de um processo.

Depois da entrega de documentação, o órgão americano decidirá se o que foi apurado até então é suficiente ou não para a abertura de uma ação. Até lá, o mercado só pode aguardar.

Hoegner, na entrevista no ‘What Bitcoin Did’, disse que as empresas estão colaborando com a Justiça. Tanto que, segundo ele, cerca de 2,5 milhões de documentos sobre o caso já foram entregues. “Vamos continuar prestando as informações que eles pedirem”, falou