Bomba relógio
Foto: Shutterstock

O mercado agora está com os olhos voltados para a indústria DeFi. 

Dado o número de artigos que li sobre DeFi, posso afirmar seguramente que sua cobertura pelos sites especializados no universo cripto é quase tão frequente quanto as notícias sobre a pandemia na mídia convencional.

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Mas antes de continuar com os detalhes, deixe-me explicar o que é esse novo conceito. 

O que é DeFi? 

DeFi é um ecossistema de serviços financeiros. É construído por meio da utilização de redes de blockchain descentralizadas e software de código aberto, permitindo que qualquer pessoa em todo o mundo com uma conexão à internet possa acessar.

Ao utilizar um conjunto de protocolos, algoritmos e contratos inteligentes pré-escritos, as transações monetárias podem ser gerenciadas sem intervenção humana. Assim, os usuários podem negociar grandes volumes de criptomoedas com mais segurança e a taxa mais baixas. 

Sem a interferência de instituições centralizadas, DeFi é muito transparente e resistente à censura, pois qualquer pessoa pode examinar seu código-fonte e entender os fundamentos por trás dos contratos inteligentes que foram colocados em prática. 

Devido aos seus vastos benefícios, DeFi está começando a ser amplamente utilizado, especialmente em serviços como empréstimo de dinheiro peer-to-peer, emissão de stablecoins e plataformas de tokenização de ativos. 

Empréstimos DeFi parecem ótimo, não é? Mas qual é a lógica fundamental do DeFi? 

Sendo um sistema financeiro descentralizado, qual é o contrato financeiro subjacente que gera retorno? Hoje, de que forma um sistema bancário centralizado tradicional gera retorno para seus depositantes?

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Os bancos recebem depósitos dos clientes e depois emprestam dinheiro às pessoas físicas e jurídicas. Podemos dividir os empréstimos em duas categorias: empréstimos colateralizados e empréstimos não-colateralizados. 

Para aqueles que são novos com todos esses termos e jargões financeiros, o exemplo mais comum de empréstimo colateralizado é um empréstimo CDC, que é muito utilizado pelos brasileiros para financiar a compra de veículos.

Com essa modalidade, você pede dinheiro emprestado a um banco, mas coloca o carro ou moto adquirido como garantia.

Portanto, se você não puder pagar seus empréstimos por qualquer razão, o banco pode tomar e liquidar esses bens, como forma de obter seu dinheiro de volta. 

Com empréstimos não-colateralizados, um banco empresta dinheiro exclusivamente com base em seu histórico de crédito, na análise de sua renda e comportamento de consumo anterior.

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Um bom exemplo disso é o cartão de crédito ou outros tipos de crédito ao consumidor. 

Os empréstimos não-colateralizados exigem que um banco execute uma análise de crédito profunda para uma pessoa ou empresa para decidir quanto emprestar e qual taxa cobrar, com base no cálculo do risco de sua inadimplência (a chance de você não pagar o dinheiro de volta). 

No caso dos bancos, eles assumem os riscos. Por exemplo, se o devedor ficar inadimplente, o banco usará seu capital para pagá-lo de volta.

No entanto, no mundo de DeFi, assim como já acontece com as criptomoedas, isso não acontecerá, pois a ideia é que cada indivíduo seja dono do seu dinheiro. 

DeFi está lidando com o mercado de empréstimos colaterais 

Se você quiser pedir dinheiro emprestado usando o DeFi, primeiro você precisa colocar um ativo na plataforma como “garantia”.

Por exemplo, você pode colocar US$ 10.000 em Ethereum no sistema DeFi para pedir um empréstimo de US$ 7.000 em USD stablecoin. Isso é chamado de sobrecolateralizado. 

Ao receber esses US$ 7.000 em USD stablecoin, para a plataforma é criada  o que eles chamam de “alternativa de conta poupança” (savings account alternative).

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Isso porque tem US$ 10.000 em Ethereum contra ela, que é cerca de 150% sobrecolateralizado, considerando que o montante depositado como garantia sofre correção de juros definida conforme a oferta e demanda de todo o sistema. 

Embora isso pareça muito sofisticado, não é nada novo (exceto pela descentralização, claro).

Isso, visto que esse modelo já é aplicado principalmente no mercado de operações estruturadas tradicional no Brasil, que envolve formas de financiamento a partir da emissão de certificados de crédito imobiliários (CRI), ou seja, a financiamentos que possuem créditos imobiliários como garantia. 

Então tudo isso é muito seguro, não é?  Será? 

O empréstimo hipotecário é considerado um dos ativos mais seguros para um banco, pois o preço do imóvel “só sobe e nunca desce”, pelo menos isso é considerado a norma em muitos países.

O argumento é que, mesmo que o preço da casa caia, as pessoas provavelmente não deixarão de pagar suas hipotecas, pois precisam de um lugar para morar. 

Você ainda se lembra da crise financeira de 2008? 

O maior risco de qualquer ativo de empréstimo colateralizado é que existe uma grande correlação entre a taxa de inadimplência e o preço do ativo subjacente.

Quando os preços dos imóveis caem, todos os empréstimos hipotecários começam a inadimplir ao mesmo tempo.

Por isso, existem muitos requisitos dos bancos centrais sobre as reservas de capital das instituições bancárias, que é simplesmente o dinheiro extra que um banco possui para pagar quando os empréstimos inadimplentes não podem ser cobertos pela revenda da garantia.

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É claro que isso não é suficiente. Em 2008, muitos bancos quase ficaram sem dinheiro. Eles conseguiram sobreviver a essa grande crise por meio da obtenção de liquidez gratuita dos bancos centrais.

Muitos deles também foram resgatados pelo governo para evitar que os clientes perdessem seus depósitos. Esses são todos os riscos que uma plataforma DeFi não apresenta. 

No entanto, o DeFI pode ser considerado livre de riscos? 

Todo o mundo sabe que não existe um produto financeiro totalmente isento de riscos e há pessoas que podem perder dinheiro. Vamos dar uma olhada detalhada novamente no mecanismo de como o DeFi funciona usando a tecnologia. 

Para ter um sistema financeiro descentralizado sem gerenciamento, tudo tem que ser escrito no contrato inteligente, incluindo a liquidação de seu ativo digital, no caso de você não poder pagar seus empréstimos.

DeFi não é como um banco onde o processo de apreensão de sua propriedade e colocação dela em leilão pode levar meses. No DeFi, a liquidação automática ocorre instantaneamente pela chamada de margem quando o nível de preço for atingido. 

Isso significa que, quando você está pegando um empréstimo de stablecoins em USD de uma plataforma DeFi usando seu ether, se o preço desse ativo entrar em colapso, nesse momento o sistema DeFi venderá automaticamente seu ETH em stablecoin. Isso para reembolsar ao credor  que você pegou emprestado. 

Lembre-se: a plataforma não está vendendo apenas o seu ether, mas também o ether de todos os outros na plataforma ao mesmo tempo.

Com o mesmo ativo subjacente e o preço do ether caindo, todas as chamadas de margem de empréstimo do DeFi ether serão atingidas ao mesmo tempo. Isso significa que esse movimento afetará todas as plataformas DeFi e até mesmo aquelas que são centralizadas que operam da mesma maneira. 

Afinal, DeFi é oportunidade? 

Não há dúvidas que existe um hype sobre os projetos DeFi. Independente do protocolo que se usa para construir a aplicação distribuída, o risco tecnológico, por si só, é um dos maiores pontos de atenção.

Tal premissa é evidente ao notar a governança de cada projeto e os desafios que os protocolos possuem para trazer escalabilidade. 

A lição básica para investimentos é gerenciamento de risco (pela ótica de quem desenvolve produtos em blockchain, isso também deve ser levado em conta). É um mercado com volatilidade onde há risco tecnológico e demanda dedicação de tempo para evitar cair em golpes ou ser violado por phishings.

Ter ativos em projetos blockchain exige uma cautela enorme não só no que se diz respeito à gestão de risco, mas também para segurança da informação.

Manter sistemas atualizados, gerenciar senhas de forma correta, guardar chaves, criptografar discos, entre outros cuidados.

O colateral

Em uma pesquisa simples pelo site dapptotal, há US$ 5.3 bilhões de colateral, somando os mais diversos projetos (Aave, WBTC, Uniswap, EOS REX entre outros). Consulta realizada em 17-08-2020 em https://dapptotal.com/defi

Em uma pesquisa simples pelo site dapptotal, há US$ 5.3 bilhões de colateral, somando os mais diversos projetos (Aave, WBTC, Uniswap, EOS REX entre outros). Consulta realizada em 17-08-2020 em https://dapptotal.com/defi

Apesar do gráfico apresentar grandes quantias de ativos em colateral, como gerenciamento de risco, considerar a possibilidade de desvalorização e o risco tecnológico é uma tarefa que não se pode ignorar.

Alguns projetos trabalham com mecanismos de segurança (uma espécie de seguro) baseados em outros ativos mais sólidos como o Bitcoin (apesar desse ativo ter características de risco similares aos projetos de De-Fi).

Se vê a mesma dificuldade para auditar projetos de stablecoin. No entanto, o alívio para esses projetos De-Fi é a oportunidade de construir um ecossistema mais robusto em comparação ao que se tem hoje (quando se refere a stablecoin).

Oportunidades

Além da rede Ethereum, outros projetos estão com oportunidades para aqueles que possuem um pouco de conhecimento em programação de computadores para contribuir de alguma forma em melhorar o ecossistema.

A tarefa não é fácil, mas se vê uma boa vontade da comunidade ao enviar propostas: WAVES, EOS, NULS, MakerDAO, RSK e o ETHEREUM. 

Cada projeto com seu dilema em resolver uma pendência para trazer mais escalabilidade. O próprio projeto Chainlink e BAND. que tiveram crescimento no preço, estão com propostas abertas em seus repositórios de código para melhoria. 

Apesar desse otimismo em oportunidades, aqueles que conseguem realizar um fork no código e estudar possibilidades, correm o risco também de perder tempo em um protocolo que já começou errado. 

De qualquer forma, o ecossistema está aberto para inovações. É possível contribuir com código, procurar bugs e gerar conteúdo educativo. E por outro lado, há a oportunidade de operar nesse ecossistema por meio de empréstimos rápidos (flash loans), poupança e oferta de liquidez.   

Sobre a autora

Beibei Liu é formanda em Engenharia Financeira pela Universidade Internacional de Negócios e Economia (UIBE) em Pequim, China. É co-fundadora do unicórnio de tecnologia asiático Abakus Group e CEO da corretora global NovaDAX, desde sua fundação em 2018.

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