Imagem da matéria: Criptomoedas serão substituídas por CBDCs, diz ex-presidente do BC  
Ex-presidente do Banco Central do Brasil, Ilan Goldfajn (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Ilan Goldfajn, diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para as Américas e ex-presidente do Banco Central do Brasil, voltou a expor sua descrença no futuro das criptomoedas ao participar nesta terça-feira (16) do webinar “Criptomoedas, CBDCs e o futuro das finanças descentralizadas”, organizado pelo escritório TozziniFreire Advogados.

Durante o debate, o economista que comandou o BC entre 2016 e 2019 discutiu os riscos e benefícios das moedas digitais dos bancos centrais (CBDC) e afirmou que, em um futuro em que CBDCs sejam uma realidade, as criptomoedas perderão seu espaço no mercado.

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“Minha visão é que, quando se compara com as criptomoedas e stablecoins de hoje, à medida que entrem as moedas do bancos centrais, elas dominem completamente o mercado, porque terão a capacidade do Estado, o lastro, e isso vai acabar dominando”, afirma.

Na apresentação durante o webinar, Goldfajn negou um suposto temor de que moedas privadas, ou seja, aquelas que não são controladas por um Estado, teriam algum tipo de chance de substituir as moedas soberanas:

“Muitas vezes, em países em crise, a moeda do país não é usada e se perde o controle do sistema monetário. Esse risco de substituição de moeda pode existir de forma digital também. Mas, minha avaliação nesta questão de risco, é que se você tem uma política fiscal e um Estado merecedor de uma moeda estável, naturalmente será o Estado que vai prevalecer.” 

Ele também desbanca a capacidade de criptomoedas serem usadas em trocas financeiras da mesma forma que uma moeda fiduciária. “Estamos vendendo moedas digitais privadas que surgem mas que acabam sendo mais ativos do que moedas, porque não performam com a característica de moeda: ter valor estável, capacidade de reter valor e um estado que lhe dê segurança e lastro”, explica.

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O evento também contou com a presença de Fabio Araujo, economista do Banco Central, Larissa Arruy, sócia e VP da Neon, e Reinaldo Le Grazie, ex-diretor de Política Monetária do Banco Central

Goldfajn já chamou bitcoin de “pirâmide”


Em outras ocasiões do passado, Ilan Goldfajn já havia compartilhado sua visão pessimista sobre criptomoedas como o Bitcoin (BTC).

“Acho que as criptomoedas não sobrevivem muito tempo. E digo isso porque a busca por ativos seguros e de proteção é monumental. Então se você emite uma moeda governamental que é digital e que te dá segurança, não tenho dúvida que isso é ganhador e é detrimental às criptomoedas (privadas)”, disse Goldfajn em junho do ano passado.

Diferente do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que possui uma postura mais amigável frente ao mercado de criptomoedas, preocupado principalmente em como regulá-lo, o seu antecessor seguiu o caminho contrário.

Goldfajn já chegou a chamar o bitcoin de bolha e pirâmide financeira em 2017. “[Bitcoin] é a típica bolha, a típica pirâmide, que em algum momento vai deixar de subir e vai voltar [a cair]”, disse ele na época em entrevista ao Valor.

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Sinal verde para a tecnologia blockchain

Diferente de cinco anos atrás, agora Ilan Goldfajn consegue pelo menos ver valor na tecnologia blockchain por trás das criptomoedas, uma vez que esta servirá como base para que os bancos centrais do mundo lancem as versões digitais de suas moedas soberanas.

“Nós temos uma tecnologia que já existe e que nos permite pensar em CBDC. Há pelo menos 100 países estudando criar uma CBDC, e no Brasil precisamos estudar isso também”, defende Goldfajn. 

Na sua visão, o Brasil deve ter uma CBDC apenas se esta for capaz de resolver os problemas de eficiência, inclusão financeira e transferências transfronteiriças que existem atualmente. “Se tiver tudo isso, aí sim a tecnologia vai nos ajudar a criar uma coisa que ainda não temos”.

Fabio Araujo, economista do Banco Central e responsável por coordenar o projeto de CBDC, também esteve presente no webinar. Na sua fala, ele afirmou que o BC deve abraçar as tecnologias das criptomoedas, pensando em como usá-las para facilitar a vida dos brasileiros. Ele defende, por exemplo, o uso de contratos inteligentes — tecnologia que surgiu com o Ethereum.

“Neste ambiente de contratos inteligentes, você pode criar um contrato de um real ou de um milhão e o custo será praticamente o mesmo. Assim você ganha escala e pode levar serviços financeiros de crédito, de investimento e de seguro para uma base mais ampla da população”, exalta Araujo.

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“É esse o caminho que nós queremos traçar, de incluir essas tecnologias e esses novos ativos dentro de um ambiente que seja seguro e que traga proteção para essas novas transações”, conclui o economista do BC.

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