Criptomoeda Pi Network usa tática de esquema de pirâmide financeira para atrair usuários

Criptomoeda foi criada por egressos da Universidade de Stanford
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Foto: Divulgação

A criptomoeda Pi Network foi lançada no final de 2019 por egressos da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, com a promessa de ser uma fonte de renda extra para as pessoas. O problema é que o projeto não entrega o que promete e, além disso, se vale de táticas usadas por companhias de marketing multinível e pirâmides financeiras para atrair novas pessoas.

Para supostamente ganhar dinheiro com a criptomoeda, os usuários precisam baixar um aplicativo — disponível nas lojas de aplicativos do Google e da Apple — que tem a função de minerar ‘Pi’ por meio do próprio celular. Para isso, basta a pessoa entrar no app a cada 24 horas e fazer um check-in.

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Mas não basta entrar no app. O projeto informa que para ganhar taxas mais elevadas na suposta mineração, o usuário deve convidar mais amigos e familiares. Quem chama de sete ou mais pessoas, por exemplo, tem direito a um suposto bônus de 25% durante o processo de ‘fabricação’ de novas criptomoedas. Usuários mais velhos na plataforma também recebem mais que os mais novos.

Esse modelo de negócio, baseado principalmente no convite de outros membros, é conhecido como marketing de rede (ou multinível). Apesar de ser legal no Brasil e nos Estados Unidos, onde a empresa é sediada, o formato é popularmente usado por supostos golpes no mercado de criptomoedas, como Genbit, Binary Bit e tantos outros que infestaram o setor de ativos digitais nos últimos anos.

Falta de visibilidade do projeto gera dúvidas

Segundo seu white papel, a ‘Pi’ é uma criptomoeda baseada numa versão simplificada do algoritmo da blockchain Stellar. Ao adaptar a rede da Stellar, a Pi promete transformar cada celular em um nó da sua rede.

O projeto, no entanto, não dá visibilidade para sua tecnologia blockchain, como ocorre com a maioria dos outros projetos da área, que geralmente publicam seu código aberto para que outras pessoas possam validá-los.

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Outra ponto que joga dúvidas sobre a ‘Pi’ é o fato de os divulgadores da ‘Pi’ fazerem promessas mirabolantes para tentar convencer mais usuários. Esta youtuber aqui, por exemplo, afirmou em vídeo no Youtube que é possível faturar até US$ 1000 por dia com a criptomoeda. Já este outro youtuber afirmou que a moeda pode valer US$ 1000 até 2025. Os divulgadores também costumam deixar mensagens em várias redes sociais – e até mesmo no Portal do Bitcoin – convidando outras pessoas a se juntarem à rede.

Mensagem de um usuário do Pi no Portal do Bitcoin

Por causa da falta de visibilidade, do modelo de negócios e da atuação dos divulgadores, diversos fóruns discutem se a Pi Network é scam.

No FAQ do aplicativo, a Pi Network afirma que não é golpe, mas sim um “esforço genuíno de uma equipe de graduados de Stanford para dar às pessoas comuns um maior acesso à criptomoedas”. A empresa também diz que não pode garantir que o projeto terá sucesso, mas promete “trabalhar duro” para que dê certo.

Desenvolvedores são egressos de Stanford

A ‘Pi’ foi criada pelos desenvolvedores PhD’s Nicolas Kokkalis, Chengdiao Fan e Vincent McPhillip, todos egressos da Universidade de Stanford, um das melhores instituições de ensino superio do Estados Unidos. No final de 2019, o lançamento do projeto virou notícia no jornal da faculdade.

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Desde a criação da criptomoeda, no entanto, seus criadores não fizeram muita propaganda sobre a ‘Pi’. Há apenas um vídeo publicado no suposto perfil de Kokkalis no Instagram, onde o trio aparece em um vídeo falando sobre a rede. Chama a atenção o fato de que essa postagem é de 2019. Além dela, só há mais uma publicação na página do PhD.

“Essa é a minha ÚNICA conta oficial para o Pi Network. Todas as outras são fake. Eu a criei recentemente, então ela não possui muitas postagens”, afirmou Kokkalis em seu perfil.

“Trio de Stanford” comemorou os 500 mil usuários do Pi em 2019

A desenvolvedora Chengdiao Fan também não divulga nada sobre a Pi Network.

Já McPhillip menciona a Pi nas suas redes sociais. No entanto, na terça-feira (02) ele anunciou a sua saída do projeto por meio de um comunicado online. No documento, ele citou problemas legais, mas não deu detalhes sobre a questão.

“Gostaria de anunciar que não sou mais afiliado à Pi Network. Lamento ter que ser tão enigmático, mas como há um litígio pendente no tribunal superior do condado de Santa Clara, na Califórnia (EUA), meu advogado me aconselha a não dizer mais nada”, escreveu.

Embora os criadores tenham deixado de fazer propaganda da ‘Pi’, o site, o aplicativo e todos os divulgadores batem muito na tecla de que o projeto tem três egressos de Stanford no time. Cabe lembrar, no entanto, que ter algum de uma instituição de renome não é garantia de idoneidade. O esquema ponzi de criptomoedas OneCoin, que arrecadou de forma ilegal US$ 4 bilhões, por exemplo, se valia de uma consultora da McKinsey & Company, empresa global de consultoria de gestão, para atrair investidores.

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