Gary Gensler, o presidente da SEC, a CVM dos EUA, disparou mais uma vez contra a indústria cripto em um discurso na noite de segunda-feira (24), criticando o que ele acha ser um poder desproporcional exercido pelas corretoras de criptomoedas.
Os comentários de Gensler se concentraram principalmente na promoção da concorrência entre os formadores de mercado de ações. Mas o presidente da SEC, embora alertando sobre o perigo da centralização nas finanças tradicionais, também fez questão de dar um golpe na indústria de criptomoedas.
“Vimos até centralização no mercado de criptomoedas, que foi fundado na ideia de descentralização”, disse Gensler. “Na verdade, esse campo tem uma concentração significativa entre intermediários que atuam no meio do mercado.”
Gensler usou a analogia da areia fluindo através de uma ampulheta para articular como os intermediários financeiros como as exchanges – sentados no “cintura” da ampulheta, enquanto processam trilhões de dólares em transações – podem capturar lucros desproporcionalmente altos, dada sua posição vantajosa.
Ele então disse que acredita que várias corretoras de criptomoedas funcionam dessa maneira problemática, embora ele não tenha destacado nenhuma exchange específica pelo nome.
“Há uma tendência de os intermediários centrais se beneficiarem de escala, efeitos de rede e acesso a dados valiosos”, disse Gensler sobre esses intermediários financeiros auto-enriquecidos.
O presidente da SEC acrescentou, em uma aparente alusão à tecnologia blockchain, que, embora novas tecnologias possam muitas vezes ajudar a criar novas formas de competição econômica e derrubar vencedores arraigados, a centralização rapidamente encontra uma maneira de se restabelecer em novos setores.
“Embora as inovações tecnológicas atrapalhem repetidamente os modelos de negócios estabelecidos, a centralização ainda tende a ressurgir”, disse Gensler.
Guerra contra a indústria cripto
Os comentários de Gensler, particularmente sua crítica ao aumento da centralização no ecossistema de criptomoedas supostamente descentralizado, são particularmente notáveis, dadas as ações tomadas nos últimos meses por agências federais americanas para reduzir componentes descentralizados de criptomoedas e DeFi.
Em agosto, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Tesouro sancionou a ferramenta de mixing Tornado Cash e colocou na lista negra vários endereços de carteira associados ao serviço. O Tornado Cash permitia que os usuários mantivessem suas transações cripto privadas, ofuscando dados de transações publicamente disponíveis. O Tesouro alega que o serviço estava facilitando a lavagem de dinheiro e auxiliando grupos terroristas.
Muitos defensores da privacidade tomaram a medida como uma indicação de que o governo federal determinou que o anonimato – um princípio fundador da criptomoeda, juntamente com a descentralização – é um componente inaceitável.
Racha entre as empresas
O episódio também aprofundou um racha entre empresas de criptomoedas centralizadas e projetos descentralizados e seus defensores. Certas companhias, particularmente as maiores e centralizadas, imediatamente tomaram medidas para cumprir as sanções do Tornado Cash, devido ao risco de atrair a ira do governo federal. Enquanto isso, organizações descentralizadas dobraram sua hostilidade em relação ao governo e destacaram seu compromisso com a privacidade do usuário.
A Circle, a empresa por trás da stablecoin USDC, foi uma dessas empresas centralizadas que cumpriu ativamente – sem ser solicitada pelas autoridades federais – com as sanções do Tornado Cash, congelando todos os USDC presentes em carteiras na lista negra do OFAC.
O cofundador e CEO da empresa, Jeremy Allaire, mais tarde lamentou em um post no blog que achava que o governo federal havia forçado sua mão e feito da Circle uma empresa menos descentralizada contra sua vontade.
“[O cumprimento das sanções do Tornado Cash] comprometeu nossa crença no valor do software aberto na Internet e nossa crença de que a presunção e a preservação da privacidade devem ser consagradas como um princípio de design na emissão e circulação de moedas digitais em dólar”, disse Allaire.
*Traduzido com autorização do Decrypt
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