A Internet Computer (ICP) foi lançada em maio e conquistou em poucos dias a 8º posição entre as maiores criptomoedas em valor de mercado. O desempenho meteórico fez a comunidade acreditar estar diante de uma moeda que iria competir com as gigantes do setor. A expectativa, no entanto, deu lugar à uma realidade bem diferente.
Após alcançar uma máxima histórica de US$ 737 no dia 10 de maio, a ICP desabou. Na sexta-feira (2), segundo o CoinMarketCap, a moeda era negociada a US$ 43, uma queda de 94% desde o topo de preço. A capitalização do ativo, que chegou a bater os US$ 60 bilhões no auge, caiu para US$ 5,8 bilhões em poucos meses, colocando o projeto na 21ª na lista de maiores do mercado.
Sem dúvidas, a recém-lançada criptomoeda foi impactada pelas quedas generalizadas que atingiram o mercado cripto em maio, mas apenas isso não justifica uma desvalorização tão drástica para um ativo tão promissor, segundo os especialistas.
Um relatório publicado no dia 28 de junho pela empresa de análises Arkham Intelligence diz que o atual desempenho do criptoativo é consequência de um despejo de bilhões de dólares de ICP no mercado, feito por insiders ligados à Dfinity, a empresa por trás da criptomoeda:
“Os endereços que suspeitamos pertencer à Dfinity (o relatório chamou de Tesouro) e aos insiders (pessoas de dentro do projeto com informações privilegiadas) enviaram 18,9 milhões de ICP, no valor de US$ 3,6 bilhões no momento do depósito, para as exchanges”.
Essas quantias representam 75% de todos os ICPs depositados nas corretoras desde o lançamento. A suposta venda massiva de tokens, segundo a análise, seria uma possível explicação para a queda de 94% no preço.
“Não temos evidências claras e diretas de que esses tokens depositados foram vendidos. Mas os depósitos em corretoras comerciais são geralmente para fins de venda. Afinal, facilitar a venda é o objetivo dessas plataformas”, supõe o relatório.
Algumas da exchanges que receberam depósitos foram Binance, Huobi, OKEx e Coinbase, sendo que a última recebeu a maior parte.
Insiders
Para além das corretoras, os pesquisadores analisaram para quais outros endereços o Tesouro enviou criptomoedas, considerando-os pertencentes a pessoas vinculadas à empresa de alguma forma, os chamados insiders.
“Insiders suspeitos são endereços que receberam o ICP do Tesouro ou depositaram o ICP em um endereço de depósito de exchange também usado pelo Tesouro”, explicou o estudo.
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A investigação rastreou que a Dfinity enviou 34,1 milhões de tokens para 34 endereços de supostos insiders. “Os endereços variam em seu padrão de depósito, sugerindo que eles pertencem a entidades separadas”.
À medida que a cotação da moeda começou a melhorar nos dias posteriores ao lançamento, um terço desses endereços mandou 10,7 milhões de tokens para as exchanges, cerca de US$ 1,6 bilhão no momento do depósito.
Dfinity nega despejo de tokens
Na quarta-feira (28), o The New York Times repercutiu o relatório da Arkham Intelligence. Um porta-voz da Dfinity disse para o jornal que a culpa da queda da moeda era de atores mal-intencionados nas redes sociais. “Day traders com agendas alternativas e projetos de criptomoedas antiéticos usaram o Reddit e o Twitter para confundir o público”.
Sobre o despejo de tokens em exchanges, a empresa argumentou que o fornecimento inicial de ICP foi enviado para uma conta de custódia na Coinbase para, em seguida, ser enviado para várias categorias de investidores, muitos dos quais “transferiram seus tokens imediatamente” para evitar taxas ou “proteger seu ICP”.
A investigação da Arkham Intelligence argumenta que certamente a Dfinity tem a capacidade de fazer a custódia segura de seus próprios tokens, ao invés de confiar em terceiros.
“Com base em uma revisão de seus materiais públicos, a Dfinity não seguiu as práticas da indústria para demonstrar boa fé e garantir aos investidores que os membros do projeto não desencadeariam uma queda de preço por meio de vendas massivas”, conclui o relatório.
As promessas da ICP
A Internet Computer (ICP) foi criada pela empresa Dfinity Foundation, fundada na Suíça em 2014 pelo desenvolvedor Dominic Williams. O criptoativo é um dos componentes de um complexo ecossistema que surgiu com a promessa de acabar com o monopólio dos serviços de internet.
De forma geral, a ideia da blockchain é permitir que pessoas hospedem sites e softwares diretamente na internet pública, dispensando os servidores comerciais em nuvem de gigantes da tecnologia, como Google e Amazon.
Com essa proposta, a Dfinity Foundation ganhou o apoio de uma das empresas de capital de risco mais prestigiadas do Vale do Silício, a Andreessen Horowitz, que liderou duas rodadas de investimento de US$ 195 milhões para a Dfinity antes do seu lançamento.