Na manhã do dia 24 de fevereiro deste ano, o mundo acordou surpreso com as notícias do início de uma invasão russa em território ucraniano. A guerra era prenunciada ao menos desde o ano passado, mas, mesmo assim, a impressão que eu e muitos dos meus colegas de mercado financeiro tivemos é que o mundo realmente não acreditava na possibilidade de este conflito na Europa.
Para além da grave crise humanitária que se desdobra a partir deste embate (já se fala em mais de um milhão de refugiados somente em território polonês) e dos questionamentos acerca da realidade de, ainda em 2022, encararmos ações armadas como esta, um ponto que muitos clientes meus na ParMais me trouxeram nestes dias é: como preparar os investimentos para os impactos de uma crise como esta?
Primeiro de tudo é preciso entender quais são os reais impactos deste momento na economia mundial. O primeiro deles e mais óbvio está justamente na questão do petróleo. A Rússia é, hoje, uma das maiores produtoras de petróleo, gás natural e carvão do mundo, abastecendo diretamente países da Europa Ocidental, em especial a Alemanha.
Esse conflito já vem pressionando o preço da commodity, que está em seu maior valor desde o ano de 2008, o que traz um choque inflacionário generalizado ao redor do mundo. O Brasil também será diretamente impactado. Os três produtos que mais importamos: fertilizantes, gás natural e petróleo, estão ficando escassos por conta do conflito, pressionando ainda mais a inflação
A extensão da guerra ainda é incerta, assim como seus consequentes desdobramentos econômicos, mas o ponto central que abordamos com todos nossos clientes não é sobre estar preparado para lidar com esta crise, mas sim para lidar com qualquer crise.
O cerne do planejamento financeiro e patrimonial passa justamente pela questão da longevidade. Não olhamos uma carteira pensando em 1 ou 2 anos, mas sim em 15, 30 ou até mesmo 50 anos, dependendo do caso. E quando olhamos a história sob essa lupa, quantas crises você não se lembra nas últimas três ou cinco décadas? De cabeça, eu consigo pensar em mais de uma dezena.
E para lidar com esses cenários, existem três pontos de extrema importância que elenco agora:
1 — Não se desespere. Momentos de turbulência são de muita volatilidade e de movimentos bruscos que acabam sendo corrigidos. Então, primeiro de tudo, é importante manter a calma e não entrar em pânico, nem cair em boatos.
2 — Mantenha o plano. Momentos de altos e baixos extremos no mercado são a hora perfeita para recalibrar sua carteira de acordo com seu plano de longo prazo. Uma queda muito forte pode indicar, por exemplo, a hora de se expor um pouco mais em uma determinada categoria de investimentos, enquanto uma alta pode ser boa para realizar lucros.
3 — Tenha sempre uma boa consultoria financeira. Quando você se sente mal, vai ao médico, certo? Quando sua casa tem uma goteira, você chama o encanador da sua confiança, não? O mesmo deve ser no mundo dos investimentos. Está inseguro? Chame seu planejador financeiro, especialista em investimentos, para entender se a hora é de alguma mudança de rota ou não.
Mais uma vez, reforço meu veemente repúdio a esta guerra insana e perversa e deixo aqui toda minha sensibilidade às pessoas afetadas por esta triste crise.
E para você, investidor brasileiro, eu afirmo que turbulências no mercado vão acontecer frequentemente e, para buscar melhores retornos, é preciso se acostumar para aguentar a volatilidade.
Sobre a autora
Annalisa Blando é planejadora financeira certificada pela Planejar (CFP) e fundadora e CEO da ParMais, a primeira Wealth Management Tech do Brasil. Também é líder do grupo Mulheres do Brasil em Florianópolis.