O maximalista de Bitcoin e CEO da MicroStrategy, Michael Saylor, voltou a tecer fortes críticas contra o Ethereum, afirmando desta vez que a segunda maior criptomoeda do mundo não passa de um valor mobiliário (securities, em inglês).
O comentário, que gerou polêmicas nas redes sociais, foi feito durante uma entrevista ao canal Altcoin Daily, no qual Saylor cravou que ether se configura como valor mobiliário principalmente por fazer mudanças significativas no núcleo do protocolo ao longo dos anos.
“Eu acho que o Ethereum é um valor mobiliário, e acho que é bastante óbvio isso. [Ethereum] foi emitido através de um ICO. Há uma equipe de gestão por trás. Foi uma moeda pré-minerada. Há hard forks contínuos”, lista Saylor.
Uma outra crítica que ele impõe sobre o projeto é a “fusão” que se aproxima, quando o a rede do Ethereum deixa de ser baseada no consenso de prova de trabalho (PoW) — assim como é o Bitcoin hoje — e migra para o consenso de prova de participação (PoS).
Nesta transição, há uma “bomba de dificuldade” planejada para dar um basta na mineração de novo ether na cadeia antiga, algo que Saylor crava como algo que vai “acabar com toda a indústria de mineração de ether”.
“Isso vai matar a mineração. O fato de alguém ser capaz de mudar uma indústria inteira e continuar mudando de ideia a cada seis meses em vez de fazê-lo ou não fazê-lo é indício de que é um valor mobiliário e não uma commodity”.
Na visão dele, para que uma criptomoeda não caia nessa classificação, não pode haver agentes centralizados por trás do protocolo tomando decisões unilaterais. Até mesmo o processo de votação do Ethereum é falho para Saylor: “As pessoas na indústria de criptomoedas acham que o que se resolve é votando. Fazer uma votação não torna algo descentralizado”.
Mudanças no protocolo
O ponto que Saylor mais se concentra na sua crítica na defesa de que um protocolo não deve fazer mudanças radicais na sua estrutura, como as propostas pela comunidade do Ethereum.
“Um dos insights fundamentais na indústria cripto é o fato de que você pode alterá-lo.
Se você olhar para a maioria dessas criptos que têm hard fork atrás de hard fork, o problema com isso é que mudar o protocolo significa que alguma equipe de desenvolvimento está tomando uma decisão. E se você pode mudar o protocolo de forma material, você pode mudar o protocolo monetário”.
Um hard fork, na visão de Sauylor, pode alterar o padrão de emissão ou o valor intrínseco de algo, o que se poderia ser classificado como um contrato de investimento que deve responder a lei de valores mobiliários e passar no teste de Howey — teste que ajuda a determinar se um token é um título ou não.
Além do “problema” das mudanças defendidas pelo comunidade do Ethereum para evoluir o protocolo, Saylor também vê problema quanto às recompensas garantidas pelo sistema de staking, no qual o usuário trava suas criptomoedas para ganhar rendimentos.
“E se houver uma recompensa por staking, provavelmente é um valor mobiliário. O chefe da SEC disse em seis ocasiões diferentes que, se você gerar staking de uma rede de criptomoeda, isso a torna um valor mobiliário. Você não pode gerar rendimento e não ser um título”, defendeu.
Vitalik Buterin contra-ataca
Embora a entrevista de Michael Saylor tenha sido feita na semana passada, o vídeo teve proporções maiores após a conta Swan Bitcoin o divulgar no Twitter.
De forma indireta, Vitalik Buterin respondeu aos comentários de Michael Saylor ao falar sobre a falta de entendimento sobre o mecanismo de consenso de prova de participação (PoS) funciona.
Tudo começou quando o usuário @NickDPayton fez um comentário parecido de Saylor no Twitter, dizendo que “o fato de você poder votar em algo para alterar suas propriedades é prova de que é um valor mobiliário”, e recebeu a seguinte resposta de Buterin:
“É incrível como alguns proponentes do PoW continuam repetindo a mentira descarada de que o PoS inclui votação em parâmetros de protocolo (não, assim como o PoW também não) e isso muitas vezes não é contestado. Os nodes rejeitam blocos inválidos, em PoS e em PoW. Não é difícil”.
Ele continuou sua resposta indo para o lado da ironia: “Além disso, uma pequena nuance gramatical: em inglês, quando falamos de coisas como prova de participação, não dizemos “é uma segurança” [security , o que significa valor mobiliário em inglês] e sim dizemos “é seguro”. Eu sei que esses sufixos são difíceis, então perdoo o erro”.