Brasil vive boom de mineração caseira de criptomoedas

Buscas por expressões relacionadas à atividade dispararam no país
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Imagem ilustrativa (Foto: Shutterstock)

A mineração de criptomoedas vive dias de febre com a alta do desemprego no Brasil. Embora não existam números exatos sobre a atividade no país, há diversos grupos no Facebook com milhares de membros discutindo aspectos técnicos de sistemas, além vídeos no Youtube com centenas de milhares visualizações — o que forma uma comunidade em torno do tema.

Foi justamente o retorno prometido e a possibilidade de ganhar um dinheiro extra que fizeram o estudante Expedito Felipe, 34 anos, de Piumhi — município de Minas Gerais de 35 mil habitantes — começar a minerar Ethereum em janeiro deste ano.

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“Conheço o processo desde 2015, mas só decidi investir agora depois de adquirir conhecimento em fóruns gringos, YouTube e grupos do Facebook. A minha ideia é aumentar renda, diversificar rendimentos”, disse ele, que vive de renda passiva de aluguéis.

Felipe falou que fatura mensalmente entre R$ 3 mil a R$ 5 mil com a atividade e gasta cerca de R$ 300 e R$ 600 de energia por mês. Para chegar a esse ganho, no entanto, ele teve que fazer um investimento de R$ 47 mil em equipamentos. Se o valor médio mensal da atividade se mantiver no futuro, o montante inicial gasto pode ser recuperado até o final do ano.

“Tenho dois rigs (nome dado ao conjunto de mineradoras) e 1 PC comum de uso pessoal, além de placas variadas entre GTX 1080, GTX 1660 e Rtx 2070”, contou à reportagem.

Desemprego e mineração caseira

Para José Guilherme Silva Vieira, professor de economia na Universidade Federal do Paraná (UFPR), parte do fenômeno pode ser explicado pela falta de trabalho no Brasil, que no início do ano, segundo o IBGE, tinha 14,4 milhões de desempregados, o maior da série histórica, iniciada em 2012.

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No entanto, disse Vieira, o principal motivo é a promessa de recompensa associada à atividade, que só em um dia desta semana rendeu US$ 77 milhões para os mineradores de Ethereum, a segunda maior criptomoeda em valor de mercado.

“A questão social, falta de oportunidades, é importante para explicar, mas não se sustenta sozinha. Como qualquer atividade, o interesse (pela mineração) surge de uma comparação entre o retorno esperado e os custos. Os custos são definidos pelos equipamentos utilizados e pelos gastos. A mineração consome muita energia elétrica. No entanto, nos últimos 12 meses, o retorno esperado com a atividade foi catapultado pela excessiva valorização das criptomoedas”, disse ao Portal do Bitcoin.

As buscas por expressões como “minerar criptomoedas” e “minerar bitcoin” no Google, que atingiram o topo de quatro anos em maio, segundo o Google Trends.

Também entra na ‘cesta’ de indicativos a disparada das importações brasileiras de placas de vídeo, itens essenciais para a prática. No primeiro trimestre deste ano, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, empresas compraram R$ 106 milhões de GPU’s, valor quatro vezes maior que o registrado no mesmo período de 2020. Se houve tanta compra, é porque tem público interno consumidor.

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Mineração nas comunidades

Em grupos sobre mineração nas redes sociais há relatos de rigs de mineração até em favelas brasileiras. Alguns mineradores alegam que não gastam eletricidade no processo, um indicativo da utilização de ‘gatos’ de energia. A reportagem tentou conversar com alguns deles. Nenhum, no entanto, topou ser entrevistado.

Não há pesquisa ou comunicado de órgão governamental que relacione o crescimento da mineração com o aumento de ‘gatos’. No entanto, só em 2020 a Enel Distribuição São Paulo encontrou 69 mil pontos de furto de energia nos 24 municípios que atende, montante 19,5% que em 2019.

O economista e bacharel em engenharia de software Tiago Nowadzki, que é entusiasta de criptografia e do mercado de criptomoedas, acredita que a popularização da atividade no Brasil — inclusive em comunidades carentes — pode estar associada à crise que o país vive e ao ‘boom’ dos criptoativos.

“A crescente desvalorização cambial do real e a democratização das criptomoedas criam uma perfeita panela de pressão para que os mais carentes adentrem nesse mercado não somente na parte de mineração, mas principalmente na parte da especulação financeira”, falou.

“Mesmo com moedas mais competitivas (como o Ethereum), esse usuário consegue um retorno significativo caso tenha acesso a uma rede elétrica de forma clandestina. O minerador consegue, basicamente, transferir aquele consumo direto para sua carteira de ativos mesmo que o cálculo não seja atrativo se for levar em consideração o alto valor do consumo (que nesse caso passa a não existir para o minerador)”, completou.

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