As criptomoedas compõem uma indústria em forte crescimento que vem se consolidando e quebrando recordes de valorização, especialmente nos últimos dois anos. Além da criptomoeda original, o Bitcoin, há milhares de outros tokens no ecossistema formado pelas blockchains. Juntas, todas essas criptomoedas já somam um valor maior que US$ 2 trilhões.
A proposta de um sistema financeiro global descentralizado seduz a muitos. A aposta no futuro e no potencial de uso da tecnologia blockchain e das criptos faz com que mais e mais instituições abracem o tema, ano após ano. Contudo, as promessas do Bitcoin também trazem receios e preocupações a muitos.
A China é o maior representante deste movimento de desconfiança quanto às criptomoedas. O país já possui um histórico de vetos a criptomoedas, que voltou a ser reforçado com uma nova proibição no fim de setembro deste ano. Outros países e entidades, embora não agem tão diretamente contra as criptomoedas, expressam preocupação especialmente perante o impacto ambiental e o consumo energético dessa indústria.
O problema energético das criptomoedas
O Bitcoin (BTC) e o Ether (ETH), juntos totalizando 60% da capitalização de mercado total das criptomoedas, foram as primeiras criadas e herdaram um mecanismo de validação bastante ineficiente. Eles funcionam através da mineração por PoW (Prova de Trabalho), que necessita de muitas “fazendas” de computadores potentes e com alto gasto de eletricidade.
Muitas das novas criptomoedas foram projetadas com algoritmos de consenso mais eficientes, que executam as tarefas de forma mais rápida e com baixa demanda energética.
A blockchain Ethereum está passando por uma atualização que mudará o algoritmo de validação para PoS (Prova de Participação), que gasta menos energia, mas o Bitcoin avança inalterado e possui mais de 40% da capitalização de mercado total. De fato, o Bitcoin sozinho gasta mais energia elétrica do que alguns países inteiros, como a Argentina.
O assunto volta aos holofotes em um momento-chave. Na semana passada, o Prêmio Nobel de Física de 2021 foi dividido entre dois cientistas por suas contribuições para o entendimento de sistemas complexos. Klaus Hasselmann aplicou a nova tecnologia ao modelamento climático terrestre quantificando, comprovando e prevendo, com precisão inédita, o alcance do aquecimento global.
A notícia foi muito difundida e comemorada, às vésperas da Conferência das Nações Unidas, marcada para 31 de outubro, durante a qual lideranças mundiais discutirão tratados e disposições sobre as mudanças climáticas.
Três especialistas foram convidados pelo The New York Times para uma discussão sobre o futuro das criptomoedas, e se elas podem caminhar em direção à sustentabilidade: Alex de Vries, Kathleen Breitman e Paul Prager. Confira, a seguir, os pontos principais do debate.
Um sistema de mineração ultrapassado
Segundo Kathleen Breitman, o motivo central para o alto consumo energético do Bitcoin (e Ethereum) é o sistema de PoW (Prova de Trabalho, ou “Proof of Work”). Neste algoritmo, cada computador da rede trabalha para ser o primeiro a resolver um problema matemático complexo.
Há cerca de três milhões de máquinas hoje, trabalhando a potência máxima para a geração de um novo bloco a cada 10 minutos. O computador vencedor é premiado com os novos bitcoins gerados, além das taxas de transação do bloco recém-adicionado à blockchain.
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Esse processo de validação é importante para o funcionamento seguro da blockchain, mas já existem alternativas melhores, que não consomem tanta energia. De fato, nos últimos 5 anos, de todas as novas blockchains e criptomoedas criadas, praticamente nenhuma utiliza PoW. Esta, embora tenha representado uma grande inovação em 2010, hoje se tornou uma tecnologia defasada, que sobrecarrega o meio-ambiente.
Alternativas sustentáveis para o Bitcoin
Uma das formas propostas para se contornar o problema ambiental é a conversão do Bitcoin e de seu sistema de mineração em uma espécie de “bateria”.
Um dos grandes obstáculos enfrentados pelas energias limpas, como solar e eólica, é a dificuldade de armazenamento em baterias para a utilização durante a ausência de sol ou vento.
O Bitcoin, contudo, poderia se valer de fontes de energia limpa intermitentes locais, armazenando o valor gerado pelas mesmas na forma de um recurso digital. Outra fonte possível seriam energias desperdiçadas, como as chamas de combustão em refinarias de petróleo.
Contudo, os especialistas são céticos quanto a tratar o Bitcoin como uma “bateria”. Breitman afirma que uma “bateria unidirecional” não é uma bateria, e, em momentos de crise, não há como usar o Bitcoin para acender as luzes.
Paul Prager e Alex de Vries indicam que é possível atingir-se uma mineração 100% sustentável. A proposta é o desenvolvimento de uma rede elétrica eficiente, com carga de base flexível, que direcione a energia excedente aos computadores da rede blockchain.
Segundo os especialistas, uma grande quantidade de energia já é desperdiçada em todos os países anualmente, e se a mineração se valer de uma energia que já seria jogada fora, então não há adição de nenhum problema ambiental.
Conclusão
As criptomoedas mais recentes utilizam designs mais modernos, que não demandam o alto gasto energético do Bitcoin e do Ether. Embora a rede Ethereum já esteja sendo atualizada para o sistema PoS, a do Bitcoin permanece inalterada.
Contudo, especialistas apontam que há possíveis soluções que podem colocar o Bitcoin mais próximo da sustentabilidade. Essas alternativas estão no uso de energias renováveis e na otimização das redes elétricas, para a flexibilização e destinação do excedente de energia aos computadores de mineração.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. É fundador da empresa Growth.Lat e do projeto Growth Token.