Bitcoin Core 30.0 é lançado com suporte ao polêmico OP_RETURN; veja o que muda

Mudança amplia significativamente o que pode ser armazenado na blockchain do Bitcoin e acende debates sobre o uso da rede

Ilustração código do Bitcoin

Shutterstock

A versão 30.0 do Bitcoin Core, principal software para rodar a rede Bitcoin, foi lançada no domingo (12), trazendo uma das mudanças mais debatidas dos últimos tempos: o aumento do espaço permitido para dados no campo OP_RETURN, que passou de 80 bytes para até quase 4 MB por transação. 

A mudança amplia significativamente o que pode ser armazenado diretamente na blockchain, algo que acende debates sobre o uso da rede para fins além das transferências monetárias.

O campo OP_RETURN, usado para embutir dados arbitrários em transações de Bitcoin, sempre foi limitado para evitar abusos. Agora, com a nova versão, os desenvolvedores flexibilizam essa regra ao permitir múltiplas saídas OP_RETURN por transação, com um novo limite agregado de até 100.000 bytes por padrão, e que na prática é limitado apenas pelo tamanho máximo da transação. 

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A alteração gerou polêmica. Desenvolvedores como Peter Todd apoiaram a mudança, argumentando que os limites antigos já eram contornados de forma não oficial e que a atualização torna o Bitcoin mais flexível e programável. Por outro lado, críticos alertam que o maior espaço para dados pode congestionar a rede e encarecer as taxas, prejudicando seu uso como sistema de pagamentos.

Porém, o aumento do espaço no OP_RETURN não foi a única mudança do Bitcoin Core 30.0.

Outra atualização importante foi a introdução de um limite para operações de assinatura em transações padrão. A partir desta versão, cada transação pode executar no máximo 2.500 dessas operações, usadas para validar se os fundos estão sendo gastos corretamente. A medida não afeta o funcionamento normal de transações comuns e foi implementada como preparação para futuras propostas de melhoria na rede, como a BIP54.

A política de taxas também passou por ajustes relevantes. A taxa mínima para inclusão de transações em blocos por mineradores (a chamada block minting fee) foi reduzida para 0,001 satoshi por vbyte. Já as taxas mínimas de retransmissão e de incremento — usadas para decidir se uma transação será repassada pela rede ou se será considerada em pacotes de substituição — foram fixadas em 0,1 sat/vB.

Apesar dessas mudanças nas taxas, os desenvolvedores alertam que essas são apenas configurações padrão: cada nó pode definir seus próprios limites, e transações com taxas muito baixas ainda podem ser ignoradas por boa parte da rede se essas configurações não forem adotadas amplamente.

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O que mais mudou no Bitcoin Core 30.0

Apesar da polêmica em torno do OP_RETURN, a versão 30.0 do Bitcoin Core trouxe uma série de outras melhorias que, embora mais silenciosas, devem ter impacto significativo na robustez e desempenho do software. Quem ajuda a enxergar o quadro mais amplo é Mike Schmidty, diretor executivo da Brink (organização que apoia o desenvolvimento de código aberto no ecossistema Bitcoin) e um dos colaboradores do Bitcoin Optech.

Em uma análise publicada na rede X, Schmidty destacou que o Bitcoin Core 30.0 incorporou 577 pull requests (PRs) — contribuições individuais de código que passaram por revisão e foram aprovadas. Segundo ele, isso mostra que, mesmo sendo um projeto altamente conservador e focado em segurança, o Bitcoin Core exige um esforço constante de manutenção e aprimoramento técnico.

A maior parte dessas mudanças está concentrada em áreas como testes automatizados (181 PRs), sistema de compilação (70 PRs) e documentação (70 PRs). Schmidty chama atenção especialmente para a expansão da cobertura de testes do tipo fuzzing, técnica que busca descobrir bugs inesperados ao submeter o código a entradas aleatórias. Isso contribui para que o software do nó se torne ainda mais resiliente a falhas.

Outro destaque foram as melhorias no sistema de build, com a adoção do CMake, um framework moderno que facilita a construção do Bitcoin Core em diferentes plataformas. Isso também abre espaço para avanços como o suporte aprimorado ao Stratum v2, protocolo que fortalece a descentralização da mineração.

A versão 30.0 também marca a conclusão de um projeto de cinco anos: a migração completa da carteira interna para o sistema de “descriptor wallets”, mais moderno e seguro, que facilita a integração com aplicações e melhora a experiência do usuário.

Embora não tenha aparecido nas notas oficiais da versão, Schmidty também revelou que o processo de sincronização inicial de blocos (IBD) está 20% mais rápido em comparação com a versão 29 — e mais de duas vezes mais rápido que nas versões 25 e 23. Isso deve beneficiar operadores de nós que precisam sincronizar do zero com a blockchain.

Por fim, Schmidty apontou que as mudanças de política — como o novo limite de 2.500 operações de assinatura e os ajustes nas taxas mínimas — representam apenas uma pequena fração das alterações desta versão. “Você pode discordar da mudança no OP_RETURN e ainda assim reconhecer que as demais melhorias são benéficas e provavelmente estarão presentes em outras implementações do Bitcoin Core, como o Knots ou o Libre Relay”, escreveu.

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