O desenvolvimento da rede blockchain Cardano segue em progresso contínuo, agora em direção à era Goguen. Esse novo período da rede tem sido muito aguardado e é um dos mais significativos até o momento, pois trará a possibilidade de implementação de contratos inteligentes.
O último hard fork foi instalado em março deste ano. A atualização ‘Mary’ trouxe suporte a tokens nativos e operações multiativos, com a possibilidade de projetos com tokens fungíveis e não-fungíveis (NFTs). Já a atualização ‘Dedalus’, de 1º de abril, consolidou a descentralização completa da Cardano.
O próximo hard fork, chamado Alonzo, será o primeiro da era Goguen. Uma data definitiva não foi informada, mas ele é esperado para setembro de 2021. A seguir, apresentaremos as principais informações sobre este hard fork da Cardano.
Cardano vs. Ethereum
A rede Cardano foi criada em 2017 pelo cofundador da Ethereum e matemático, Charles Hoskinson. O projeto sempre teve seus objetivos bem estabelecidos desde a origem, entrando em concorrência direta com a rede Ethereum como uma alternativa mais eficiente e escalável para a execução de contratos inteligentes e projetos DeFi.
Contudo, blockchains precisam passar por um desenvolvimento gradual e contínuo, adquirindo investimentos, usuários, maturidade e solidez. A própria Ethereum, cujo sucesso como segunda maior blockchain se deve à implementação de Contratos Inteligentes, está passando por um longo processo de atualização.
Isso porque a rede enfrenta congestionamentos, taxas de transação muito altas e baixa escalabilidade, o que tem limitado muito o crescimento dos sistemas DeFi. A Ethereum 2.0, já adiada muitas vezes, trará soluções de escalabilidade e, principalmente, uma mudança para o sistema de Prova de Participação (PoS).
De fato, o próprio atraso na atualização da Ethereum é responsável por criar uma brecha de oportunidade, ocupada pela Cardano, que já utiliza o sistema PoS, e as principais concorrentes. A Cardano busca suprir a demanda por um ambiente eficiente onde se possam desenvolver projetos DeFi com Contratos Inteligentes, e é aí que entra o hard fork Alonzo.
Hard fork Alonzo — do que se trata?
O nome vem como homenagem ao matemático Alonzo Church (1903–95), que trouxe contribuições importantes ao ramo da informática, como a descoberta do cálculo lambda. O hard fork instalará uma plataforma para contratos inteligentes chamada Plutus. Contratos inteligentes (smart contracts), por sua vez, possibilitam que quaisquer desenvolvedores independentes lancem projetos de dApps — aplicativos descentralizados — na Cardano.
A linguagem para os contratos inteligentes será baseada em Haskell, uma linguagem de programação derivada do cálculo lambda. Os desenvolvedores clamam que, graças à linguagem matematicamente verificável utilizada, a Plutus trará contratos inteligentes com lógica mais robusta e segura que a existente na Ethereum hoje.
Acredita-se que a mudança possibilitará a eliminação de bugs e hacks em projetos DeFi. Se isso se realizar, os efeitos serão significativos: a plataforma Messari estimou que, desde 2019, mais de US$ 284 milhões foram perdidos para hackers em projetos DeFi.
Agenda de lançamento do Alonzo
Em maio deste ano, a Cardano360 informou o cronograma para as etapas intermediárias do lançamento do Alonzo. São elas:
● Maio/junho — Alonzo Blue: contratos inteligentes simples estão passando por testes com os integrantes do programa Plutus Pioneers. Esse programa inclui mais de 1.500 desenvolvedores, que buscam aprender e dominar a linguagem Plutus, para programação na Cardano.
● Julho — Alonzo White: dApps demo serão disponibilizados para um público maior, bem como back-end de carteiras e outras funções centrais.
● Agosto — Alonzo Purple: esta etapa trará otimização, integração com corretoras e desenvolvedores, e focará em casos reais. Uma parcela ainda maior da comunidade terá acesso a essas funções.
● Setembro — Alonzo Red, Black, Staging & Mainnet: programadas para fim de setembro, essas últimas etapas concluirão o lançamento da mainnet.
Impactos do hard fork
A primeira consequência da aproximação do Alonzo foi a subida do preço do ADA, a token nativo da Cardano. Entre 14 e 18 de maio, a moeda chegou a operar acima dos US$ 2. O mesmo aconteceu em fevereiro, em antecipação ao hard fork ’Mary’. Naquele mês, o ADA valorizou 270% antes da atualização de março.
O ADA já se encontra entre as 10 criptomoedas com maior capitalização de mercado do mundo. Atualmente, subiu para a quinta posição, com US$ 49 bilhões. É perfeitamente plausível afirmar que o preço continuará subindo, em decorrência da proximidade da atualização, embora o mercado possa já ter precificado esse fator.
O que esperar da Cardano no futuro
O plano para o desenvolvimento da blockchain Cardano está traçado em detalhes, e foi discutido por Hoskinson em abril, através de seu canal no Youtube. A blockchain tem o plano dividido em eras, sendo que em cada era as atualizações miram um foco específico. Ela já passou pelas eras Byron (implementação de carteiras) e Shelley (armazenamento, multiativos e descentralização). O criador da Cardano apresentou reflexões para os próximos quatro anos do projeto, que ainda passará pelas seguintes eras:
● Goguen — contratos inteligentes, iniciando com o hard fork Alonzo;
● Basho — otimização e escalabilidade;
● Voltaire — governança.
Hoskinson mencionou o problema de escalabilidade, mas afirmou que no momento o foco é a implementação dos contratos inteligentes. A era Basho é altamente aguardada pelos usuários e já está na mira dos desenvolvedores, mas ela só começará a ser discutida oficialmente após a instalação do hard fork Alonzo ser bem-sucedida.
A Cardano busca seu espaço ao sol, e tem feito movimentos para incursão em mercados em desenvolvimento, como América do Sul, África e Sudeste Asiático. Caso já tivesse implementado essa atualização anteriormente, poderia ter ficado em grande vantagem com relação ao próprio Ethereum. Este, por sua vez, ainda está funcionando com PoW (Prova de Trabalho) e também prossegue com suas atualizações em fase de desenvolvimento.
Caso a Cardano complete com sucesso os objetivos da era Goguen, é possível que haja uma migração de projetos DeFi para sua rede. Muitos, contudo, não acreditam que a Cardano substituirá a Ethereum, mesmo após o ciclo de atualizações se completar. Em resposta a esse assunto, Hoskinson afirma que não tem interesse em competir pela participação no mercado, mas sim fornecer os melhores componentes da categoria para um futuro descentralizado.
Disse também que seu foco está na interoperabilidade e cooperação com outras blockchains, pois acredita que a tecnologia descentralizada é importante demais para falhar. Ele finalizou dizendo que trabalha pelo bem da indústria blockchain e pela adoção dessa tecnologia como um todo.
Apesar do comentário diplomático, é evidente que a Cardano e a Ethereum têm objetivos em comum. Contudo, a presença de um não invalida a atuação do outro. O futuro do blockchain é amplo, e o mercado anseia por projetos de todas as modalidades, incluindo os contratos inteligentes e dApps.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. É fundador da empresa Growth.Lat e do projeto Growth Token.