Imagem da matéria: A reação "cypherpunk" aos ataques de governos contra a privacidade do Bitcoin
(Foto: Shutterstock)

À medida que o governo americano reforça suas iniciativas regulatórias, projetos em defesa da privacidade entram cada vez mais na mira. A comunidade cripto está preocupada — principalmente os “cypherpunks”, defensores da privacidade que pregam o uso de criptografia — e usuários estão enfrentando as consequências da proibição ao Tornado Cash e como a proibição pode ser implementada na prática.

Porém, nos bastidores, desenvolvedores da rede Bitcoin estão trabalhando há anos para preservar a privacidade ao transacionar com criptomoedas.

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“O ataque direcionado a um protocolo de código aberto (em vez de uma pessoa física especíca) é claramente um escalonamento ao tentar fazer criptomoedas ‘caberem’ no que os EUA consideram como sua estrutura de controle financeiro”, disse Craig Raw, desenvolvedor da Sparrow Wallet, ao Decrypt.

“Aqui é onde a importância de armazenar fundos sem ligações a KYC [identificação de clientes] fica evidente e a luta pela privacidade financeira escalona novamente.”

Há quem pense que o Bitcoin garante a privacidade, mas isso não é verdade. Em seus primórdios, muitos usuários do Bitcoin eram ingênuos e realizavam transações on-line com a criptomoeda sem pensar nas consequências — incluindo em mercados ilegais na darkweb.

Atualmente, autoridades conseguem ligar transações da rede Bitcoin a pessoas reais, pois “off-ramps” — plataformas que convertem criptomoedas em moedas nacionais —, como corretoras de criptomoedas, coletam informações identificáveis sobre seus clientes.

Inclusive, autoridades disseram preferir que criminosos utilizem o ativo, pois é facilmente rastreável. O Bitcoin pode ter uma natureza pseudônima — a identidade de ninguém é registrada na blockchain —, mas toda transação fica registrada para sempre.

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“Já compartilhamos tantas coisas da nossa vida on-line e essa tendência irá continuar, sem dúvidas”, afirmou o contribuidor de design do Bitcoin, Christopher Ono, ao Decrypt. “Após décadas de internet, também ficou evidente que a necessidade de coletar/analisar/hackear/vender dados é muito forte para muitas empresas privadas, governos e outros grupos.”

Ele acrescentou que “dados são usados contra nós” e que a camada extra de dados financeiros em uma infraestrutura pública pode tornar as coisas “bem piores”.

É por isso que desenvolvedores estão trabalhando na criação ferramentas que vão tornar transações na rede Bitcoin quase impossíveis de rastrear. Aqui listamos alguns destes projetos.

Carteiras

Uma forma de tornar o Bitcoin mais sigiloso é por meio do uso de determinadas carteiras. Especificamente, carteiras que usam CoinJoin — uma tecnologia que agrupa transações para ofuscar suas origens. Atualmente, existem diversos projetos que utilizam protocolos de mixing prometendo transações quase anônimas que protegem a privacidade dos usuários. A CoinJoin é uma delas.

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Autoridades federais dos Estados Unidos estão de olho nos protocolos de mixing. Esta semana, o Departamento do Tesouro baniu o Tornado Cash, um aplicativo de mixing de criptomoedas que permite que usuários enviem ether de forma anônima — a primeira iniciativa desse tipo.

Cidadãos americanos estão proibidos de usar a ferramenta ou interagir com endereços que a utilizam. Desenvolvedores cripto e usuários estão tentando lidar com as consequências dessa proibição e como ela será aplicada. Porém, por enquanto, o desenvolvimento de ferramentas parecidas e usadas para transações com bitcoin continua.

“Só o tempo dirá como vai ser o resultado dessa batalha mas, no futuro, não existe um meio-termo para ele”, explicou Raw. “Ou teremos ferramentas para que todos tenham privacidade ou não teremos privacidade alguma.”

A Wasabi Wallet é um projeto que utiliza a rede Tor para encriptar comunicações. Tor é um software que permite que usuários anonimizem seu tráfego de internet ao enviá-lo por uma rede de servidores operada por voluntários.

Wasabi, uma carteira para desktop, conecta usuários a nós aleatórios e de ponto a ponto do Bitcoin, ofuscando transações para que se torne muito difícil saber aonde o dinheiro está indo. Em junho, lançou sua mais recente carteira, a Wasabi 2.0.

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Sua equipe contou ao Decrypt que o lançamento mais recente é a melhor opção para a anonimidade porque tornará “a privacidade [uma opção padrão] para todos”, com uma experiência de usuário (ou UX) rápida e barata.

“O que a diferencia [de outras carteiras] é a experiência de usuário”, explicou Adam Fiscor, cofundador da zk-SNACKS, empresa responsável pela Wasabi Wallet. Ele acrescentou que a privacidade deve ser “sem atritos e natural” e que a Wasabi faz isso; até um “não bitcoiner” consegue entender como utilizá-la.

Por que alguém desejaria usar a Wasabi? “Boas experiências de usuário com produtos de privacidade são necessários conforme nos aproximamos de um mundo em que tudo está on-line”, afirmou Fiscor.

Rafe, um contribuidor de longa data da Wasabi, contou ao Decrypt que a Wasabi utiliza um novo mecanismo da CoinJoin que ofusca mais transações do que anteriormente, ou seja, mais pessoas podem obter vantagem da função de privacidade do aplicativo.

Raw afirma que a Sparrow Wallet pode tornar o bitcoin quase tão privado quanto monero (XMR), a maior moeda de privacidade, cuja capitalização de mercado é de US$ 3 bilhões e é a opção de preferência para manter a anonimidade.

Onero utiliza “ring signatures” — assinaturas digitais e criptográficas que não podem ser identificadas —, então é dificílimo rastrear transações com essa criptomoeda.

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As transações com bitcoin podem ser rastreadas, pois tudo é armazenado em uma blockchain pública. Mas Raw afirma que a Sparrow pode chegar a um nível similar de privacidade se o usuário desejar.

“É possível, com cautela, atingir um nível de privacidade similar ao do monero”, contou ele ao Decrypt. “Basicamente, a resposta está na pergunta ‘qual é o grau de anonimidade que eu quero’ com cada transação que você fizer.”

“Ao usar as ferramentas na Sparrow, é possível tornar [esse grau de anonimidade] suficientemente enorme [para] que as probabilidades de seguir a origem dos fundos sejam baixas o suficiente para tornar [o rastreio] praticamente impossível.”

Usando a Lightning Network

Talvez a forma menos conhecida de manter a anonimidade ao usar o Bitcoin seja via Lightning Network. É uma “solução de segunda camada”, criada para lidar com o problema de escalabilidade do Bitcoin — em outras palavras, permite que mais transações sejam processadas de uma só vez. Isso é possível ao evitar o uso da blockchain principal do Bitcoin.

Porém, também possui benefícios de privacidade, pois toda transação não é armazenada na blockchain principal permanentemente. Em vez disso, várias transações são agrupadas e, em seguida, registradas como uma única e grande transação.

Isso não é apenas útil para microtransações (como comprar uma xícara de café em El Salvador), mas também para manter os pagamentos anônimos.

Evan Kaloudis, o desenvolvedor responsável por Zeus, uma carteira não custodial da Lightning, contou ao Decrypt que ao usar a Lightning, é “virtualmente impossível” descobrir quem pagou o quê.

“Hoje, a Lightning tem mais privacidade para remetentes”, explicou. “Seu chefe não deve conseguir ver onde você gasta seu salário. A loja de conveniência onde você realiza uma pequena compra não deveria saber quanto dinheiro você tem ou onde mais você faz compras.”

Mas ainda existem problemas com a privacidade na rede Bitcoin, acrescentou Rafe, e precisam ser corrigidos.

Por quê? Porque a supervisão do governo pode aumentar com o dinheiro digital, como moedas digitais de banco central (ou CBDCs) — que são versões centralizadas e digitais de moedas nacionais, como o dólar americano. CBDCs poderiam, em teoria, ser usadas por grandes entidades para monitorar o que fazemos.

Governos ao redor do mundo estão em etapas diferentes de desenvolvimento ou pesquisa de tais ativos e alguns países caribenhos já lançaram suas CBDCs.

Mas talvez a maior preocupação para a comunidade cripto — ou qualquer um que se importe com a privacidade — seja uma CBDC usada por um regime autoritário, como o da China, para supervisionar a vida cotidiana da população.

“A parte assustadora é que governos também estão fortalecendo a supervisão das finanças tradicionais com pontos de carbono em cartões de crédito, a remoção do dinheiro, CBDCs e escores de crédito social”, explicou Rafe. “Não acredito que vão permitir que [haja] competição monetária ou um sistema diferente com normas e liberdades diferentes.”

“Se quisermos uma alternativa, é melhor que a desenvolvamos rápido”, afirmou.

*Traduzido por Daniela Pereira do Nascimento com autorização do Decrypt.co.

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