Desde que atingiram o público mainstream, como alicerce do Bitcoin e de outras criptomoedas, as blockchains se tornaram prioridade de pesquisa científica em diversos países. Essa tecnologia possibilita o aprimoramento de muitos tipos de sistemas digitais, em uma grande variedade de setores da sociedade e do mercado. Um desses campos de aplicação está nas instituições de ensino superior.
Blockchains como alvo de pesquisa de instituições de ensino superior
A tecnologia blockchain é bastante jovem. Trata-se de um campo de pesquisa ativo, com grande potencial para inovação disruptiva, produção de patentes, automatização e transformação de processos em geral. Dessa forma, é um assunto de interesse para pesquisadores de muitas universidades ao redor do mundo.
Segundo uma publicação de 2016, mais de 80% da produção científica sobre blockchain estava focada, naquele momento, no Bitcoin. Menos de 20% discutia outras aplicações, como contratos inteligentes. Os 41 artigos analisados no estudo provinham de 12 países, a maior parte dos EUA (13,31%), com Alemanha e Suíça em segundo lugar.
Um novo estudo, de 2021, relata um grande crescimento da pesquisa em blockchain. Foram analisados 2451 papers, publicados entre 2013 e 2019 e oriundos de 97 países, com 2190 instituições de pesquisa participantes. Os líderes em volume de produção são os EUA (20,94%) e China (19,24%).
O campo de pesquisa com maior número de publicações é Ciência da Computação, seguido de Engenharia, Negócios/Economia e Telecomunicações.
Uma análise mais detalhada indica a progressão do interesse das pesquisas: em 2013, os artigos tratavam dominantemente do Bitcoin. Em 2014, com o surgimento das altcoins, essas começaram a ganhar espaço nas publicações.
Em 2015, o foco converge para blockchains e contratos inteligentes, voltando-se para a Internet das Coisas (IoT) em 2016. Em 2017, temos muita atenção voltada para blockchain, e de 2018 em diante, para os desafios e limitações da mesma.
Apesar da grande influência dos Estados Unidos quando o assunto é publicação científica, a China é, de longe, o maior produtor de novas tecnologias baseadas em blockchain.
De todas as patentes blockchain registradas no mundo até 2021, 84% pertencem à China, 8% aos Estados Unidos, 2% às Ilhas Cayman, 1% à Índia e 1% à Coreia do Sul. Os 4% restantes estão divididos entre outros países.
A utilização de blockchains dentro das instituições de ensino superior
Não só um alvo de pesquisa e produção científica, a tecnologia blockchain também tem sido objeto de experimentação dentro das universidades.
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Com a demanda por ensino on-line decorrente da pandemia de Covid-19, essas instituições do mundo todo se viram sem alternativa a não ser se adaptarem de vez à quarta revolução industrial. Além dessa digitalização de processos, algumas delas também já estão implementando soluções blockchain para assuntos institucionais, como validação de diplomas e credenciais acadêmicas, certificados e históricos escolares.
Por mais que possa parecer improvável, as ocorrências de falsificações em comprovações acadêmicas — especialmente a alteração de notas e conceitos em históricos escolares — são bastante comuns. Nesse caso, o uso de blockchains impede adulterações, encripta as informações e desloca a posse dos dados da instituição para o próprio indivíduo.
Isso oferece um meio permanente e seguro para o registro da trajetória de qualificação do estudante/profissional ao longo da vida. O armazenamento é feito em uma rede global pública, confiável e facilmente acessível pelo mercado de trabalho contratante. Seria um passo adiante em relação aos currículos online, como a Plataforma Lattes do Brasil, ou ao que é proposto pela rede social LinkedIn.
Temos duas instituições pioneiras no assunto: a Universidade de Melbourne, na Austrália, e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA. Em 2016, o MIT desenvolveu uma tecnologia de credenciamento acadêmico chamada “Blockcerts”. A mesma já foi adotada pela Universidade Southern New Hampshire e pelo Central New Mexico Community College, nos EUA.
Perspectivas para o futuro
Acredita-se que o ritmo de adesão de instituições de ensino a essa tecnologia deve crescer.
A inclusão de outras funcionalidades em blockchain, como pagamentos em criptomoedas, também deve ficar mais frequente. Algumas universidades do mundo já aceitam que o pagamento das mensalidades seja feito em Bitcoin. Outras, como o MIT e o Instituto de Tecnologia da Georgia, aceitam pagamentos em Bitcoin em lojas dentro do campus.
Centros de pesquisa focados em desenvolvimento blockchain também vêm se multiplicando. Um dos que surgiu recentemente foi o novo Centro da Universidade de Columbia (Nova York), voltado para pesquisa, educação e inovação em tecnologia blockchain e transparência de dados. Ele conta, inclusive, com uma incubadora de empresas.
Aplicações futuras também podem ocorrer nos campos de pedagogia e biblioteconomia. A produção de conteúdo de ensino por educadores, armazenada em blockchain, pode facilitar a interdisciplinaridade e o escambo de conhecimento, inclusive no âmbito internacional.
Bibliotecas em blockchain também podem facilitar o acesso, controle e proteção de conteúdo literário e seus direitos autorais. Esse assunto já está sendo pesquisado pela Escola de Informação da Universidade Estadual San José, nos EUA.
Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. Atua como Business Development Manager Brasil na Kucoin.