A força da rede Bitcoin é baseada em criptografia muito forte. Mas e se um dia, em um futuro não muito distante, os computadores avançassem a um nível tal que os atuais padrões cripto já não fossem suficientemente bons?
Essa é a promessa e o perigo da computação quântica, uma tecnologia que permite que os computadores utilizem as regras da física quântica para acelerar cálculos e processar grandes quantidades de dados a velocidades que os computadores de hoje simplesmente não são capazes de fazer.
No momento, os computadores quânticos estão em um estágio inicial de desenvolvimento e não estão disponíveis no mercado convencional. Mas talvez estejam mais próximos da realidade do que muitos imaginam.
Invadir uma chave privada Bitcoin?
Uma das maneiras mais citadas de atacar uma chave privada Bitcoin — embora nunca tenha sido feita com sucesso — é o ataque de “força bruta” a uma chave privada Bitcoin.
Um ataque de força bruta é simplesmente uma busca exaustiva e automatizada por computador de possíveis combinações para descobrir uma chave privada, o que concederia a um ator externo acesso às criptomoedas de outra pessoa.
O problema para os pretensos hackers de hoje é que uma chave privada é um número entre 1 e 2^256, também conhecido como 115 quattuorvintilhão (algo como 1075 ou mil duodecilhões. O duodecilhão é um número igual a 1 seguido por 39 zeros). Sim, esse é um número real, e estima-se que seja um número maior do que o número total de átomos no universo.
Esse é um nível de processamento de números que os computadores de hoje simplesmente não são capazes de executar — a menos que você tenha algumas centenas de anos em suas mãos.
Em que ponto está a computação quântica?
A tecnologia de computação quântica já está bem preparada.
Em fevereiro de 2021, a Microsoft anunciou a abertura de um serviço chamado Azure Quantum, que foi projetado para levar a tecnologia quântica diretamente aos computadores da Microsoft.
Na China, o fabricante de computadores SpinQ está trabalhando em um computador quântico com o foco em liberá-lo ao público geral por apenas US$ 5 mil. E em março de 2022, o centro de Segurança Cibernética da OTAN anunciou que testou com sucesso fluxos de comunicação seguros no que foi descrito como um “mundo pós-quântico.”
O Bitcoin está realmente em risco?
O Bitcoin estaria em maior risco à medida que as transações se enfileirassem para serem processadas.
Isso não está muito longe de acontecer. Novos blocos são extraídos na blockchain Bitcoin a cada 10 ou mais minutos (embora nem todas as transações elegíveis estejam incluídas no primeiro bloco disponível). Uma vez que isso acontece, não pode mais ser alterado. No entanto, antes que isso aconteça, uma chave privada poderia teoricamente ser replicada, permitindo que um hacker roubasse fundos da carteira de um usuário antes que um novo bloco na blockchain fosse confirmado.
O CEO da computação quântica, Andersen Cheng, disse ao Decrypt, “Uma vez que essa chave pública é exposta, um computador quântico pode calcular a chave privada de forma relativamente rápida, em minutos ou horas, no máximo.”
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Mas Cheng diz que o perigo nem sequer está necessariamente em adulterar transações reais — trata-se da confiança.
“A principal ameaça não é se os computadores quânticos podem ‘abrir’ informações de chave privada”, disse ele em abril de 2022. “É mais sobre o poder de um computador quântico replicar uma chave privada sem que você saiba, minando a confiança em todo o processo de assinatura.”
Mas ainda não chegamos lá.
De acordo com Mark Webber, da Universidade de Sussex, no Reino Unido, quebrar esse nível de criptografia exigiria um computador quântico com 1,9 bilhão de “qubits”.” Este é um número incrivelmente alto, especialmente quando você considera que o melhor computador quântico da IBM possui apenas 127 quibits em comparação.
Como Cheng já disse ao Decrypt, a computação quântica não é algo que atingirá o mercado dominante tão cedo. Mas isso não significa que a indústria cripto possa se afastar da computação quântica e dos riscos que essa tecnologia pode apresentar.
“Quando as pessoas dizem que não precisamos nos preocupar com computadores quânticos — [que] eles ainda estão a 10, 20, 30 anos de distância — eles estão frequentemente falando sobre um computador quântico comercial”, disse Cheng, acrescentando que “no mundo da cibersegurança, a ameaça está muito mais próxima.”
De fato, segundo algumas estimativas, a realidade funcional de um computador quântico quebrando a criptografia de sistemas pode estar apenas a cinco anos de distância.
“Estamos preocupados com um protótipo maciço e mal construído em um porão, que é tudo o que é necessário para quebrar a criptografia atual e gerar os riscos ao setor cripto que eu descrevi”, disse Cheng, concluindo que, inevitavelmente, “todo o ecossistema cripto precisará se tornar ‘seguro quanticamente’.”
O que pode ser feito?
Outros estão pensando em como evitar esse problema potencial, que afetaria não apenas o Bitcoin e a criptomoeda em si, mas também outros sistemas que dependem da criptografia — como os bancos.
Pesquisadores do Imperial College sugeriram um soft fork da blockchain Bitcoin que permitiria a “transição segura de fundos para carteiras resistentes quanticamente.” Outros propuseram aumentar o tamanho das chaves Bitcoin.
A empresa de gestão de criptoativos, CoinShares, escreveu que a própria estrutura do Bitcoin pode tornar a computação quântica, se não irrelevante, pelo menos imprudente: “acreditamos que combinar os custos de desenvolvimento e a capacidade técnica para executar um sistema quântico sugere que permanece técnica e economicamente inviável competir com os mineradores ASIC no momento, e talvez nunca seja diferente.”
No entanto, ela recomenda usar a próxima década para “modificar a infraestrutura cripto existente” para evitar essa ameaça.
*Traduzido por Gustavo Martins com autorização do Decrypt.
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