Se você está acostumado com o mercado de ações, provavelmente já se deparou com as fórmulas de Preço/Lucro (P/L) ou Valor da Empresa/Lajida (EV/Ebitda). São modelos matemáticos que levam em conta a receita ou lucro da empresa e seu valor de mercado, medido pela cotação ou capitalização total.
Da mesma maneira, quem acompanha o mercado de moedas, usualmente monitora saldos da balança comercial, investimento estrangeiro, taxas de juros e demais indicadores macroeconômicos.
Talvez não seja uma ciência tão exata quanto a renda fixa ou ações, porém há indicadores que ditam a tendência de médio e longo prazo.
Mas afinal, é possível adaptar algum destes modelos de análise fundamentalista para as criptomoedas? Quais os indicadores disponíveis?
Alguns analistas têm dedicado bastante tempo desenvolvendo teorias a fim de prever algum tipo de comportamento nas criptomoedas.
A BitcoinTrade mais uma vez aposta no empoderamento de nossos clientes, trazendo os mais diversos tipos de análise para que você possa tomar a decisão certa do momento de investir.
Quer se aprofundar no assunto? Continue essa jornada conosco!
Índice de receita dos mineradores (Hash Price)
É a divisão da receita diária dos mineradores pelo hashrate de 24h, o poder de computação das máquinas.
É possível encontrar o gráfico desta receita na blockchain.info, excelente fonte de dados para quem deseja se aprofundar nestes estudos. O último valor disponível é de US$ 16,3 milhões ao dia.
Já o hashrate total, ou seja, a capacidade computacional utilizada pelos mineradores, é estimada através do intervalo de tempo em que cada bloco é encontrado, conforme este gráfico do hashrate.
Para nossa fórmula, devemos multiplicar o valor por 86.400, o total de segundos em 24h. Desta forma encontramos o montante de 9,81 trilhões.
Para calcular o Hash Price, ou Índice de Receita dos Mineradores, devemos dividir os 16,3 milhões de receita pelos 9,81 trilhões do hashrate.
O resultado é de 1,66 conforme mostra o gráfico do Willy Woo, criador do indicador.
Perceba como o gráfico formou um pico no final de 2017, apontando para uma sobrevalorização do Bitcoin.
Na ponta oposta, em dezembro de 2018 o Índice de Receita dos Mineradores fazia uma nova mínima, marcando o fim daquele período que ficou conhecido como “Inverno das Criptos”.
De maneira similar, alguns analistas apontam que esta mínima no indicador no início de 2020 marcou o fundo deste movimento de baixa que levou o preço do Bitcoin até a casa de US$ 6.600, ou R$ 27.000 no Brasil.
Capitalização / Valor movimentado (NVT)
O objetivo deste indicador é medir se o atual preço do Bitcoin está alinhado com o volume financeiro movimentado na rede nos últimos 90 dias.
Ou seja, se o preço subiu, porém pouca gente está realizando transações na moeda, o indicador irá apresentar um pico.
O site que realiza esta medida, Coinmetrics, exclui transações atípicas, por exemplo, exchanges movendo moedas entre carteiras (cold wallets).
Alguns críticos desta métrica alegam que grande parte das moedas, algo em torno de 15%, está alocada em exchanges e, portanto, não constam nos dados diários de movimentação no blockchain.
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Note como o indicador apontou corretamente os picos de mercado no final de 2017 e novamente no final de junho de 2019, quando o BTC testou o nível de US$ 11.700 e iniciou uma tendência de queda que durou mais de 5 meses.
Outro problema deste indicador é o crescimento da Lightning Network, Liquid da Blockstream e do token Wrapped BTC, soluções de segunda camada que deixam os BTCs ‘presos’ enquanto transacionam apenas na rede própria.
As transações na rede Bitcoin só ocorrem ao montar ou desmontar as operações na rede secundária.
Taxa de Escassez Relativa (Stock to Flow)
Este indicador é uma proporção entre a capitalização de mercado e a produção anual, comparando o Bitcoin com os metais preciosos negociados em grande escala: ouro, prata, paládio e platina.
O ouro, por exemplo, possui 195 mil toneladas já exploradas, e a cada ano são minerados outros 3,5 mil toneladas. Isso nos dá uma taxa de escassez de 195 / 3,5 = 56. Já o valor de mercado deste ouro acima da terra é de US$ 8,65 trilhões.
Existe uma proporção entre o valor de mercado e a escassez de cada um destes metais. Aplicando a mesma regra para o Bitcoin, é possível estimar qual seria o ‘preço justo’, ajustado a cada quatro anos no processo do halving, quando a mineração de novos Bitcoins cai pela metade.
O autor deste estudo, PlanB @100trillionUSD, nos mostra que desde 2012 o preço do Bitcoin vem seguindo a tendência do modelo, embora seja possível notar bolhas cerca de um ano e meio após os halvings de novembro de 2012 e julho de 2016.
É importante ressaltar que este indicador depende da cotação e taxa de extração anual dos metais preciosos.
Além disto, o gráfico acima está em escala logarítmica. Logo, é importante notar que o desvio entre o preço do modelo e o de mercado eventualmente varia mais de 100%.
Vantagens da análise fundamentalista
Sem dúvida, alguns destes indicadores funcionaram como alertas de picos e fundos nos últimos anos. Vale destacar também:
- Dificuldade (ou custo) de se manipular dados como hashrate ou volume movimentado na rede;
- Histórico de acertos, tanto em períodos de alta (2016-2017) quanto em 2018, um ano marcado pela queda;
- Facilidade de leitura dos indicadores, uma vez que não há tantas variáveis (setups) a serem configuradas, a exemplo do que ocorre na análise técnica.
Desvantagens desta metodologia
Conforme mencionamos anteriormente, à medida que soluções de transferência via segunda camada ganhem espaço, será mais difícil mensurar quantidade e volume de transações no blockchain.
Além desta dificuldade, vale ressaltar:
- Possibilidade de manipulação dos dados, mesmo que incorrendo num custo para registro no blockchain;
- Amostra relativamente pequena, com pouco mais de 5 anos de volume expressivo;
- Hashrate do Bitcoin compete diretamente com outras moedas como Bitcoin Cash (BCH), logo oscilações no indicador podem ocorrer por fatores externos.
Conclusão
Não existe a tal fórmula mágica para determinar o preço do Bitcoin, mas certamente há indicadores que nos ajudam a criar estimativas racionais, levando em conta demais mercados semelhantes.
Seja lá qual for o indicador selecionado, é sempre bom realizar “testes de realidade”, por exemplo, observar pesquisas que medem o número de pessoas no mundo utilizando criptomoedas ou até mesmo utilizar o ranking de buscas no Google.
Lembre-se: a análise fundamentalista trabalha com um horizonte necessariamente mais longo, de semanas ou meses.
Sobre o autor
Daniel Coquieri, formado em Sistemas de Informação pela FIAP, é sócio-fundador da BitcoinTrade onde atua como Chefe de Operações (COO). É responsável também pelas áreas de desenvolvimento de produto, marketing e atendimento.