Imagem da matéria: Pirâmides financeiras disfarçadas de Bitcoin podem se beneficiar com queda da Selic
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O Comitê de Política Monetária (COPOM) reduziu a taxa básica de juros da economia de 6,5% para 6,0% ao ano, o menor valor desde sua criação.

A expectativa é de que mais reduções ocorram até final de 2019, transformando os rendimentos de instrumentos de renda fixa na faixa de 1,0% ao mês em coisa do passado.

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Espera-se que a reação dos investidores se materialize na migração de investimentos de renda fixa para investimentos de maior nível de risco. 

Fundos de investimento em ações, fundos imobiliários, fundos multimercados, compra direta de ações e outros investimentos de maior risco passam agora a ser considerados por investidores.

Mesmo ativos reais entram na lista de potenciais investimentos. Nesse ponto é que a atenção deve ser redobrada. A busca pela rentabilidade perdida cria condições para o surgimento de fraudes financeiras, pirâmides e esquemas Ponzi

O esquema Ponzi é uma modalidade de fraude financeira na qual o fraudador utiliza o dinheiro dos novos investidores para pagar os investidores que já fazem parte do esquema, amealhando para si parte dos recursos transacionados.

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Rentabilidades elevadas, objeto de investimento exclusivo ou inusitado e a construção da credibilidade são características dessa modalidade de fraude. O Bitcoin é um bom exemplo de objeto de investimento em esquemas Ponzi, contando já com inúmeros casos de fraude em que foi utilizado. 

Charles Ponzi, na década de 20, do século passado, promoveu, em Boston, uma movimentação financeira que transformou a cidade.

Ele sustentava ser capaz de obter lucro na transação com cupom de resposta internacional, um instrumento postal. Os cupons tinham taxa de conversão fixa.

Com a reorganização cambial, que se deu após a Primeira Guerra Mundial, parecia haver espaço para uma certa arbitragem.

Ele dizia contar com uma vasta rede de associados espalhados por Espanha, França, Bélgica, Inglaterra e demais países relevantes daqueles anos, os quais fariam a troca dos cupons e o envio dos recursos.

Oferecia uma rentabilidade de 50,0% em três meses. Rapidamente, o interesse em investir em seu negócio cresceu. Em pouco tempo, ele não tinha mais gavetas para guardar o dinheiro que lhe entregavam.

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O cupom de resposta internacional foi o ativo objeto utilizado.

As pessoas podiam ver a oportunidade e acreditavam que o fraudador sabia fazer o que se propunha fazer, principalmente, depois que viram seus recursos retornarem com a rentabilidade prometida.

O ativo-objeto apenas tem que servir para fortalecer a noção de que altas rentabilidades são possíveis. Assim, foram já utilizados como ativo-objeto nesse tipo de fraudes: bois, avestruzes, minhocas, selos filatélicos, espuma de travesseiro e até açaí, por exemplo.

Também, já foram aplicadas fraudes baseadas na capacidade única de um administrador financeiro, como é o caso de Madoff, e de uma dona de casa, como é o caso da Dona Branca. 

Bitcoin e pirâmides financeiras

Nessas condições, o Bitcoin se posiciona como o mais perfeito ativo-objeto que se possa imaginar.

Novo, inusitado, apresentando grandes variações de valor, tendo sido apontado como o futuro da moeda transacional, para o qual há previsões de grande valorização, a criptomoeda tem sido utilizada em esquemas Ponzi no mundo todo.

Não somente o Bitcoin, mais todas as demais criptomoedas, recaindo sobre as mais desconhecidas o manto de novidade e exclusividade, o que lhes provê maior capacidade de convencimento para a aplicação da fraude.  

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Muita calma nessa hora. Esse tipo de fraude, invariavelmente, resulta em grandes perdas para os investidores.

Mesmo nos casos em que a tutela judicial garante algum retorno, em função do arresto de ativos em nome ou na posse dos fraudadores, a perda é significativa. Comumente, os investidores acabam recebendo menos que um quarto daquilo que investiam no esquema.

Portanto, diante de oportunidades de investimento com rentabilidades prometidas muitos além daquelas dos instrumentos usuais de mercado, é recomendável cautela.

Aconselhe-se com profissionais e pessoas de sua confiança. Faça perguntas.

Como pode esse investimento garantir uma rentabilidade pré-definida? Quais as características que fazem desse investimento uma oportunidade única? Por que outros não conseguem reproduzir o negócio? Por que me está sendo oferecida essa oportunidade? O negócio não poderia levantar capitais a taxas mais baixas?

Pense bem. Na dúvida, não ultrapasse.

Sobre o autor

Fabio Cres é professor de Finanças e Análise de Investimentos e autor de livros sobre o assunto. Escreveu “Esquema Ponzi – como tirar o dinheiro dos incautos”.

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