Pouca gente sabe que Charles Ponzi, criador do famoso Esquema Ponzi, morou no Brasil por vários anos e faleceu no Rio de Janeiro aos 66 anos. Carlo Pietro Giovanni Gugliemo Teblado Ponzi nasceu em 1882 na Itália, imigrou para os Estados Unidos e na década de 1910 iniciou um tipo de pirâmide financeira que até hoje leva o seu nome.
Ponzi prometia 50% de lucro em 45 dias ou 100% de lucro em 90 dias supostamente obtidos por operações de arbitragem com cupons postais e selos americanos.
Na verdade o que Charles Ponzi fazia era pagar os rendimentos dos investidores mais antigos com parte dos aportes dos novos investidores. Não havia qualquer arbitragem ou operação real por trás.
No auge de seu império, Ponzi comprou um banco, mansões, navios e era considerado um gênio financeiro.
Porém, seu castelo de cartas começou a desmoronar nos anos 20 quando um jornalista publicou uma matéria estimando que para as contas fecharem, seriam necessários 160 milhões de cupons postais, mas apenas 27 mil foram de fato emitidos pelos correios.
Para tentar acalmar os investidores e evitar uma corrida de saques que poderia desmascarar o esquema, Ponzi permitiu os resgates, porém limitando a um montante pequeno diário. O artifício não impediu o colapso do esquema.
Ele foi preso logo depois de seu esquema implodir lesando investidores em US$ 300 milhões (equivalentes a US$ 20 milhões em 1925) e passou o resto dos seus dias preso, fugindo ou deportado.
Ao envelhecer, veio para o Brasil trabalhar para uma companhia aérea italiana e ‘morreu na sarjeta’ em 1949.
Quase um século após o colapso do Ponzi original, o país que seu criador escolheu para passar seus últimos anos se tornou um terreno fértil para esquemas Ponzi e pirâmides.
Golpistas se aproveitam da falta de conhecimento de inocentes sobre criptomoedas, trade, arbitragem e forex para criar toda uma imagem de legitimidade em operações fictícias.
Além disso, a falta de regulação para criptomoedas facilita a atuação desses fraudadores.
Identificando uma pirâmide financeira
Mas como evitar entrar numa furada como um Ponzi ou pirâmide financeira? Como resistir à ganância e tentação de ficar rico sem nenhum esforço? Como detectar a ação desses oportunistas?
As perguntas abaixo podem dar uma idéia da legitimidade de um negócio de trade, investimento ou arbitragem.
1) Apresentou algum retorno negativo nos últimos 12 meses?
2) Os limites para resgates são condizentes com o valor do seu investimento?
3) Gestores apresentam informações sobre experiência profissional prévia em investimentos ou trade em empresas com boa reputação, de preferência no mercado financeiro tradicional?
4) A empresa possui registro com CNAE e alvará permitindo a atividade que ela ela promove? Possui endereço e telefone fixo no Brasil que façam sentido (da pra ver a imagem no Google Maps)?
5) Se é você quem faz o trade na exchange, as oportunidades de arbitragem são apenas temporárias como devem ser em um contexto real?
6) O preço do Bitcoin na exchange para trade ou para aportar e retirar faz sentido considerando o preço médio das demais exchanges?
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7) Se a empresa é quem faz os trades, ela fornece informações de como chegou aos altos retornos. Por exemplo, uma carta mensal informando os trades e exchanges que mais contribuíram para os altos rendimentos? Ou se a empresa for de mineração, ela mostra suas instalações e blocos minerados?
Se você respondeu “não” para 2 perguntas é bom ficar atento. Se você respondeu “não” para 3 ou mais perguntas é bem provável que seu capital esteja em risco. Todo ele!
Daí sempre vem aquele amigo, primo ou amigo do primo e diz: “Investi na empresa X, ganhei dinheiro como prometido e saquei numa boa. Tudo deu certo. Não tem como ser golpe. Funciona”. Aí que mora o perigo!
Para que um Ponzi ou pirâmide financeira funcionem, é crucial que a empresa golpista crie confiança em seu esquema.
Ela precisa construir credibilidade para que o bolo aumente antes de ruir e deixar apenas os farelos para os investidores.
Ao criar confiança ela converte seus investidores em verdadeiros garotos-propaganda de seu esquema, trazendo mais investidores e aumentando o bolo.
Além disso, se você recebe normalmente após os seus primeiros saques, provavelmente vai voltar a investir no esquema.
A diferença entre uma pirâmide comum e o Ponzi é que na pirâmide existe geralmente um incentivo a mais para o investidor angariar novos entrantes.
Geralmente é uma comissão ou premiação provinda indiretamente de uma taxa que o novo investidor tem que pagar para entrar. No Ponzi isso é mais sutil e a rentabilidade e o ar de legitimidade falam por si só.
Além das perguntas acima, vale a pena também observar os seguintes indícios de pirâmide:
Os gestores vêm de áreas não relacionadas a trade, como coaching, opções binárias, Igrejas e marketing multinível de outros produtos?
Você precisa pagar algum plano pra entrar ou recrutar novos participantes?
Possui eventos e metas com promoções, tipo diamante, ruby, etc?
Seus promotores fazem o tipo “Bitcoin Ostentação” no Instagram, Facebook, Youtube, com carros de luxo, esbanjando dinheiro etc?
Apesar dessas precauções, muita gente ignora os indícios e acaba sendo atraída pelo sonho de ficar rico facilmente sem ter que fazer nenhum esforço para aprender ou operar uma atividade nova.
Outrossim, os arquitetos de Ponzi e pirâmide são muito criativos e carismáticos e estão sempre criando algo novo que confunda as pessoas e traga credibilidade ao esquema.
Por isso, é sempre bom ficar atento e se perguntar a questão mais importante de todas:
Parece muito bom pra ser verdade? Se a resposta for sim, provavelmente é furada.
Sobre o autor
Marcelo Miranda é trader desde 1996. Passou por diversos bancos e corretoras até em 2015 fundar a FlowBTC. Também é CEO da PandaPay.
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