Grin é uma criptomoeda recente que teve sua rede principal lançada no dia 15 de janeiro de 2019. É um projeto de implementação do protocolo MimbleWimble, que foi sugerido por Tom Elvis Jedusor em agosto de 2016.
A ideia foi aprimorada pelo matemático Andrew Poelstra e lançada no Github por Ignotus Peverell. A partir daí o projeto começou a tomar forma e contribuidores por todo o mundo foram se juntando a equipe de desenvolvimento.
O curioso é que os nomes MimbleWimble, Tom Elvis Jedusor e Ignotus Peverell foram retirados da saga Harry Potter. Sendo MimbleWimble uma magia, Tom Elvis Jedusor, o nome francês de Voldemort; e Ignotus Peverell, um personagem da história.
O mais intrigante é que esses dois sujeitos são anônimos, Tom Elvis Jedusor inclusive sumiu após a publicação de sua ideia em agosto de 2016, criando um cenário semelhante ao mistério a cerca de Satoshi Nakamoto, criador do Bitcoin.
Grin e o MimbleWimble
A Blockchain do Bitcoin foi criada com o intuito de sanar o problema de criar um banco de dados descentralizado que fosse honesto e seguro. MimbleWimble, por outro lado, vem com a ideia de criar uma Blockchain anônima, mais leve e escalável.
O nome remete a uma magia de Harry Potter que impede que o enfeitiçado fale sobre um assunto especifico, que nesse caso seria impedir que a Blockchain revelasse as informações pessoais dos usuários.
Uma das principais funções da blockchain do Bitcoin é impedir que novos BTCs sejam criados a partir do nada ou que usuários possam fazer gastos duplos. Basicamente essas soluções impedem a clonagem de dinheiro. Por isso, a blockchain é pública, pois há a necessidade de todos no sistema verificarem cada transação minuciosamente.
Esse problema de privacidade foi e continua sendo debatido na comunidade do Bitcoin e o protocolo MimbleWimble surgiu de uma dessas discussões. Ele é baseado em algumas ideias sugeridas para serem implementadas no Bitcoin, como a a CoinJoin e as transações confidenciais.
Tom Elvis Jedusor basicamente uniu essas ideias e sugeriu soluções que poderiam contornar os problemas que cada uma individualmente trazia consigo. Esse pequeno WhitePaper foi lido e melhorado pelo matemático Andrew Poelstra. O que poderia ser uma implementação para o Bitcoin acabou se tornando um projeto de uma nova criptomoeda.
Prova de conhecimento zero
Prova de conhecimento zero é um tipo de criptografia que comprova a veracidade de uma informação sem revelá-la. É um método no qual um sujeito pode garantir que o outro detém uma informação sem o mesmo revelar nada a não ser a confirmação de que a detém.
Dessa maneira, o MimbleWimble consegue garantir que suas moedas não estão sendo fraudadas nas transações e que cada valor pertence ao protocolo de forma honesta.
Para fazer isso, o sistema usa algo chamado de fator de cegueira. Um valor aleatório é adicionado ao valor transacionado e também a outras informações confidenciais. Estabelece-se uma espécie de link entre quem envia e quem recebe e os dois criam esse vínculo baseado no fator de cegueira.
A validação dessa transação se dá por meio de um cálculo — se os valores se anularem significa que nenhuma moeda nova foi criada ao mesmo tempo que não se sabe quantas moedas foram transacionadas.
Esse tipo de Blockchain não é útil para guardar registros, pois não há informação sobre valores transacionados, mas sim informação garantindo que novas moedas não foram criadas e somente trocaram de carteiras.
Criptomoeda sem endereços
Não há endereços específicos para carteiras e esse é um dos motivos que as tornam anônimas. Você deve estar se perguntando como então os valores são enviados. A comunicação entre o remetente e o destinatário precisam ser diretas e isso pode ser feito por meio de um link no e-mail, execução de um arquivo ou qualquer outro método que faça os dois lados se comunicarem diretamente.
Após a comunicação, a transação é enviada à rede e se tudo estiver correto a transação ocorre. Esse método permite transações offline, pois o arquivo da transação pode ser guardado e executado pelo segundo usuário quando ele tiver disponível.
No Bitcoin, o destinatário não interage com a transação, somente o remetente a joga na rede e os BTCs vão parar na carteira do destinatário sem que ele precise fazer nada. Essa comunicação direta na MimbleWimble é o que permite o uso do fator de cegueira e da prova de conhecimento zero, pois a rede de mineradores só tem conhecimento da prova criptográfica (que só poderia ser emitida respeitando as regras) que foi estabelecida por quem envia e por quem recebe.
Escalabilidade
Há outra implementação que ajuda na privacidade e que acaba dando como “bônus” escalabilidade e transações mais simples. Essa ideia visa mesclar transações de um mesmo bloco, permitindo que usuários façam uma espécie de ação conjunta para realizarem pagamentos.
Isso tende a tornar as transações mais simples, pois transforma muito trabalho desnecessário em uma só coisa, o que embaralha as transações ao mesmo tempo que as torna menores.
Essa característica anônima torna podas e simplificações na Blockchain muito mais simples. Não há uma preocupação com o histórico e isso permite que blocos sejam simplificados enquanto garantem que novos valores não foram criados nem que os atuais foram fraudados.
Mineração de Grin
A Grin, assim como o Bitcoin, opta por prova de trabalho (PoW). No entanto o modelo é diferente. A criptomoeda utiliza uma prova de trabalho conhecida como Ciclo Cuco — um tipo de gráfico com inúmeras ligações das quais o minerador precisa encontrar uma que respeite os níveis de dificuldade.
Há mais de um algoritmo para a mineração no momento, com o intuito de dificultar a mineração para ASICs e evitando que grande parte da rede de mineração seja monopolizada devido a seu pequeno tamanho. No futuro, é esperado que essa resistência seja eliminada.
No momento a mineração é viável para CPUs, além do uso de várias GPUs não melhorar drasticamente a facilidade da mineração. Tais características tornam a rede de mineração menos centralizada, pois permite que participação de pequenos mineradores ainda seja lucrativa.
No entanto, grande parte dessa característica se dá pelo motivo do protocolo ser novo e de não haver grande especulação no meio. É esperado que melhores técnicas de mineração sejam desenvolvidas e que o ganho de performance em maiores equipamentos aconteça. O minerador da Grin é recompensado com 60 grins por bloco e um bloco é minerado a cada 60 segundos.
Emissão de moeda “eterna”
Diferentemente do Bitcoin, não há um limite de mineração para a Grin. Os mineradores sempre irão receber 60 grins por bloco e cada bloco será minerado em um minuto. Ou seja, teremos 1 grin por segundo até que a rede deixe de existir.
Essa emissão linear fará a porcentagem de inflação cair com o passar do tempo. No momento foram minerados cerca de 500 mil grins e a porcentagem de inflação em 1 mês será gigantesca (em comparação com a quantidade atual). Em 50 anos é estimado que a porcentagem caia a 2%, o que faria essa inflação ser irrelevante, pois se equiparia a quantidade de moedas perdidas anualmente pelos usuários.
A equipe opta por esse modelo devido inúmeros fatores. Um deles é a inexistência de exemplos práticos nos quais mineradores se mantêm na rede apenas pelas taxas de transações. A Grin quer recompensar os mineradores para sempre, para que haja incentivo em continuarem participando da rede.
A equipe também acredita que essa inflação tende a tornar o preço mais estável, pois desestimula o acumulo e o surgimento de baleias no mercado. Em pratica, tal modelo faria a Grin ser mais visada como “moeda” e não como reserva de valor, pois já existe o Bitcoin para isso e a Grin não vem como uma concorrente.
Outra alegação feita é a comparação com o Bitcoin que pode ter 50% de suas moedas “perdidas” para sempre, sendo que não poderá emitir mais. A Grin também acredita que os preços serão mais naturais nesse modelo, além de não quererem criar uma criptomoeda com intuito de enriquecer os primeiros apoiadores.
Para a equipe, o problema da inflação está na sua forma desenfreada e na omissão, uma inflação controlada e transparente seria saudável em uma criptomoeda que se visa como moeda de troca. A longuíssimo prazo Grin tende a se comportar como reserva de valor, pois a porcentagem de inflação será baixíssima.
Devido a essa eterna recompensa, a Grin não vê necessidade prática no pagamento de taxas por transação, usando isso apenas para evitar Spam. Esse modelo torna as taxas baixíssimas, mas não poderei dar números exatos devido à falta de exemplos práticos na recente rede.
A Grin possui uma implementação em mente chamada de ativos confidenciais. Essa melhoria permite que a ela crie outros tipos de moedas dentro do seu sistema por meio de um soft fork, o que seria uma solução caso sua política monetária se mostrasse desastrosa no futuro.
Esse novo ativo funcionaria enquanto as moedas originais continuariam rodando no sistema sem a necessidade de serem “excluídas”.
Como usar a moeda
Infelizmente o uso acaba se tornando inviável para usuários comuns e até para intermediários. É necessário o uso de uma máquina com o sistema operacional Linux ou MacOS. Ainda há a necessidade de instalação de um full node.
Após todo o processo é preciso usar uma interface de texto complicada que exige linhas de comando até para fazer transações. Existe uma adaptação para uma versão gráfica, mas também é necessário o uso de linhas de comando para programar isso.
A mineração também exige o uso de Linux ou Mac, na página do Github tem mais informações a respeito. No momento não existe nenhuma Exchange convencional que esteja negociando a moeda. É valido lembrar que a rede principal entrou em funcionamento no dia 15 de janeiro desse ano.
Com o tempo novas carteiras simples surgirão e a criptomoeda será listada em Exchanges. Se mesmo com a dificuldade você queira utilizar, aqui está o link para o passo a passo em inglês.
Conclusão sobre a Grin
Trata-se de um projeto muito interessante e importante para o ecossistema de criptomoedas. Possui uma grande história por trás e uma comunidade ativa de desenvolvedores e teóricos. O projeto vem sendo construído desde meados de 2016. Possui um modelo bastante sólido e concreto, não sendo só mais um token ou projeto genérico que visa revolucionar algum setor.
Apesar do design simples de seu site, a Grin é um experimento sério, tanto em seu modelo técnico quanto em sua política monetária, que difere bastante do convencional. O projeto não possui um dono, não pretende criar uma fundação, não fez airdrops, não reteve um valor inicial para a equipe nem nada semelhante.
Grin veio com o intuito de melhorar o mundo e não de enriquecer fácil, os mesmos motivos que trouxeram o Bitcoin para o mundo.
Para um usuário buscando lucrar, talvez essa não seja a criptomoeda ideal, até pela dificuldade de uso que se tem atualmente. No entanto, se quiser fazer parte da história e do desenvolvimento das criptomoedas, é um bom projeto para acompanhar, pois assim como no bitcoin, há boas discussões, implementações e tecnologias sendo desenvolvidas na comunidade da Grin.
Talvez em breve desenvolvam uma carteira simples, para que os usuários comuns possam colaborar com a rede e utilizá-la com seu propósito original: servir como moeda.