Para um investidor conseguir se tornar um dos financiadores de risco de uma startup, o valor de entrada no Brasil começa em R$ 1 milhão. Foi para superar essa barreira que empreendedor Guga Stocco criou o token STOCCO1, uma oferta de Renda Variável Digital feita em parceria com o Mercado Bitcoin (MB).
Com vinte anos de experiência no mercado de capitais do Brasil e com foco em tecnologia, Stocco selecionou seis startups para fazerem parte da cesta que compõe o token. Os investidores podem entrar com R$ 100 e os pagamentos irão ocorrer quando essas empresas fizerem IPO (passarem a vender ações na Bolsa) ou forem adquiridas por outras companhias.
Em entrevista ao Portal do Bitcoin, Stocco afirma que essa estrutura só foi possível por conta da blockchain: por um lado facilita processos como registro e auditoria e também permite uma liquidez que antes era impensável.
“Se a pessoa precisa vender, ela irá ao mercado secundário e vende. Não é necessário esperar os dividendos serem pagos, pois esse é um processo que leva anos”, explica.
Stocco diz que a criação do token envolveu um procedimento mais profundo: foi criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), que é dona de partes das startups que estão na cesta. Essa entidade foi também tokenizada. Por fim, foi feita uma emissora para fazer de fato a emissão do ativo.
“Essa estrutura é aprovada na CVM e eu posso fazer isso, desde que eu esteja com o Mercado Bitcoin, que é uma empresa que autorizada a fazer o crowdfunding, conforme as regras da Instrução Normativa 88″, afirma.
As empresas do STOCCO1
O token STOCCO1 é composto pelas empresas:
- Fpass: uma plataforma que prepara alunos para o futuro, oferecendo ampla gama de cursos e modalidades de aprendizado que atendem às necessidades de diferentes perfis, a partir de R$99/mês;
- Socia: um agregador de notícias que oferece informações atualizadas sobre temas ligados à tecnologia, permitindo acompanhar tendências, oportunidades e inovações em tempo real;
- Bank Factory: um banco que permite às empresas oferecerem uma solução financeira exclusiva para as necessidades da sua base de clientes, de modo a agregar diversas soluções homologadas e atender as regras de compliance do setor;
- Atypical: uma plataforma que conecta instituições de pesquisa e empresas, reduzindo o gap entre essas duas pontas. O sistema conta com infraestrutura de laboratórios para o desenvolvimento de hardware, eletrônica e software;
- Road: uma ferramenta que permite administrar conta nacional e internacional no mesmo lugar: investir, comprar, enviar e receber valores e mercadorias do exterior. Futuramente, irá viabilizar investimentos em criptoativos, ações e Real Estate.
- Empresa em pré-lançamento, voltada a soluções de inteligência artificial.
Leia abaixo a entrevista com Guga Stocco:
Uma das metas da tokenização do fundo é gerar um mercado mais acessível?
Sim, o objetivo com o token é resolver um problema real do setor de venture capital no Brasil. No sistema tradicional você precisa de um ticket de entrada alto: aqui no Brasil é R$ 1 milhão, o mínimo. Aqui a entrada é de R$ 1 mil, com os tokens de R$ 100 [a compra mínima do STOCCO1 é de dez unidades].
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E outro ponto é que ao investir em startup, é normal o retorno demorar muitos anos para ser realizado. Com o token no MB, vai existir o mercado secundário. Os donos que precisarem liquidar antes, vão poder fazer isso vendendo para outras pessoas. O preço vai ser ditado pela lei de oferta e procura.
Quando acontece o pagamento de dividendos para os donos dos tokens?
Quando as empresas que estão na cesta abrirem capital na Bolsa de Valores, ou seja, fazerem o IPO. Ou quando uma outra companhia comprar essas startups. Nesse momento os investidores recebem de acordo com o número de tokens.
O primeiro fundo que eu tive teve um retorno de 44 vezes, mas no período de dez anos. Parte do investimento era na empresa Hotmart e existe até hoje. Só vai virar lucro quando eles abrirem o IPO.
Como foi a escolha das startups que fazem parte da cesta?
O foco em IA é porque é uma tecnologia estrutural. Isso significa que vai mudar muita coisa com o uso dessa tecnologia, como a Internet foi estrutural e a energia elétrica. Então fomos buscar empresas de inteligência artificial que resolvam problemas no modelo de ecossistema. Diferente de ter um produto que pode dar certo ou errado, eu vendo a picareta para que as pessoas construam os seus produtos. As duas startups de IA que temos na cesta são provedoras de infraestrutura.
Em fintech, a Load oferece uma conta global totalmente diferente. Em nanotecnologia, temos projetos inovadores como grafeno feito de cinza de casca de arroz, e plástico biodegradável a partir de soro de leite. Na edtech, criamos uma plataforma semelhante ao Netflix para educação formal, com cursos feitos por grandes professores do mundo.
Como essa operação foi feita do ponto de vista regulatório?
Criamos uma estrutura legal para fazer o fundo: uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), que é dona de partes das startups que estão na cesta. E temos uma emissora, que emite os tokens. Essa estrutura é aprovada na CVM e eu posso fazer isso, desde que eu esteja com o Mercado Bitcoin, uma empresa que autorizada a fazer o crowdfunding, conforme as regras da Instrução Normativa 88.
O quanto a tecnologia blockchain foi importante para tirar esse projeto do papel?
Se eu fosse abrir um fundo de venture capital normal ele teria um custo gigantesco. Tem toda a parte de auditoria, direito, regulamentação, gestor e ficaria muito caro. Por isso que custa R$ 1 milhão para entrar. Claro que todo fundo gostaria de ter uma entrada de R$ 100, mas não paga a conta. Como ele vai se relacionar com todos os seus 4 mil clientes? Vai precisar de um call center.
Então na nossa estrutura, quando criamos a SPE, nós já a tokenizamos. Assim mantivemos a estrutura legal necessária, com todas as etapas. Mas listamos o token no Mercado Bitcoin e damos a liquidez necessária. Estamos usando a tecnologia do blockchain para fazer algo muito mais barato e eficiente.
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